Amapaense quebra paradigmas ao lançar, na USP, HQ sobre o apagão

Dayanne Farias, contextualizou o apagão, ocorrido em 2020, em uma História em Quadrinhos. O Amapá, ainda tão incipiente em produções literárias, tem em Dayanne, um exemplo indubitável de que há muitos talentos e poucas políticas públicas. A Lei Paulo Gustavo, que moderniza a cultura, deve ser mais incentivada.
Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal

Ana Dayanne da Silva Farias, 24, conseguiu romper um paradigma que é raro de acontecer: escrever, entreter e ser um exemplo, inclusive para o poder público do Amapá, de que talentos literários estão aos montes, mas é preciso que haja mais interesse e respeito pela cultura. Dayanne transformou seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em uma História em Quadrinhos (HQ) que foi publicada pela Revista USP da Universidade de São Paulo (USP), considerada como uma das mais conceituadas da América Latina.

Arquivo Pessoal.

DO DESIGN GRÁFICO À LITERATURA – Dayanne foi aprovada em Design Gráfico na Universidade Federal de Goiás (UFG) em 2018. Mesmo vivendo em Goiânia, Dayanne decidiu levar consigo a cultura e a história de sua terra natal, especialmente o cenário ‘pós-apocalíptico’ do apagão que afetou a ela, sua família e mais de 700 mil pessoas durante 22 dias, em plena pandemia. 

“Eu acho que além da minha vontade, era também uma obrigação falar sobre isso e, enfim, dar visibilidade para o que estava acontecendo, já que quase ninguém estava dando a visibilidade que a gente precisava. Eu levo nossa história adiante sempre que puder, disse Dayanne.

Dessa tragédia, nasceu uma obra em HQ denominada ‘Ilha dos Esquecidos’ (Clique no link e leia), onde Dayanne criou uma narrativa fictícia baseada em várias histórias de cidadãos amapaenses, capturando o sentimento de impotência, isolamento e desespero enfrentado pela população. 

Ela sentiu que, além de sua vontade pessoal, era uma obrigação falar sobre o ocorrido e dar visibilidade ao que estava acontecendo, já que quase ninguém estava prestando a devida atenção.

Reprodução.

Acho muito importante que as pessoas daqui tenham visibilidade pra falar e pra dar voz sobre as coisas daqui. Já que são sempre as pessoas de fora fazendo isso. Eu decidi que eu queria falar sobre isso, em qualquer oportunidade que eu tivesse“, contou Dayanne.

DO FIM DO APAGÃO AO INÍCIO DA HQ – O processo de criação da HQ começou em uma disciplina de Design Gráfico, onde um professor de História em Quadrinhos propôs um trabalho com temas sociais. Inicialmente, Dayanne criou uma atividade sobre o apagão, que foi apresentada na época e acabou sendo publicada em um artigo do professor, mas somente com o nome dele. 

Foi então que ela decidiu transformar esse tema em seu TCC. Dayanne já havia visto trabalhos de autores de fora sobre o apagão, e escolheu a música popular amapaense, “Jeito Tucujú”, em sua epígrafe para destacar uma produção de uma mulher que passou pelo ocorrido, nascida no Amapá, para o resto do Brasil.

Ela destacou a importância de que as pessoas do Amapá tenham visibilidade para falar e dar voz sobre as questões locais, uma vez que, frequentemente, são pessoas de fora que fazem isso. Com esse objetivo, Dayanne decidiu conceber a HQ sobre o apagão em qualquer oportunidade que tivesse. 

Arquivo Pessoal.

Atualmente, a ideia é publicar a História em Quadrinhos na forma física para iniciar as vendas de sua obra. Dayanne ainda pretende continuar com este trabalho. A HQ está disponível para leitura no formato digital, mas a escritora expressou seu interesse em dar continuidade à história, que deveria ser mais longa, mas não conseguiu incluir todos os detalhes devido ao tempo de entrega.

HISTÓRICO DO CAOS – em 03 novembro de 2020, o Amapá enfrentou uma das piores crises de sua história recente: um apagão que afetou profundamente a vida de milhares de pessoas e que resultou em um corte massivo de energia elétrica. A causa foi um incêndio em uma subestação que em Macapá que destruiu três transformadores que distribuíam energia elétrica para 13 dos 16 municípios

Somente no dia 24 de novembro foi anunciado que a energia elétrica estava 100% normalizada. Então, gradativamente, a vida de aproximadamente 750 mil pessoas foi retornando ao normal. Mas os prejuízos, não somente os socioeconômicos, mas como na saúde mental, até hoje deixam lembranças. Para levar como aprendizado ou lamento sociocultural.

Protestos já estavam virando rotina em Macapá e imagina-se que nos demais 12 municípios afetados pelo apagão de 2020. Foto: Reprodução

Os danos causados pelo apagão foram vastos. A falta de energia elétrica comprometeu serviços essenciais como saúde, educação e segurança. Pequenos e médios negócios sofreram com a interrupção das atividades, resultando em perdas financeiras consideráveis. Além disso, a crise energética intensificou as dificuldades enfrentadas pela população durante a pandemia de Covid-19, agravando a sensação de isolamento e impotência. O fim oficial de estado de pandemia só foi anunciado em maio de 2023 pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

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