O desemprego subiu em grande parte do Brasil, mas um estado se destacou pela resiliência e pela queda nas taxas de desocupação: o Amapá. Enquanto a média nacional viu um aumento de 7,4% para 7,9% na passagem do quarto trimestre de 2023 para o primeiro trimestre de 2024, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados no último dia 17, o Amapá nadou contra a corrente e reduziu seu desemprego de 14,2% para 10,9%.
DESEMPENHO REGIONAL E NACIONAL
De acordo com o IBGE, oito estados acompanharam a tendência nacional de aumento no desemprego. Destaques incluem o Acre, que saltou de 6,7% para 8,9%, e a Bahia, que foi de 12,7% para 14%, a maior taxa do país. Outros estados, como Maranhão e São Paulo, também registraram aumentos significativos.
Por outro lado, o Amapá mostrou uma queda impressionante, mesmo ainda mantendo uma taxa alta comparada ao restante do país. É importante observar que 18 unidades da Federação tiveram taxas de desemprego estáveis, sem variações estatísticas significativas.
“A maior parte das UFs mostrou tendência de crescimento, embora apenas oito com crescimento estatisticamente significativo. A única exceção foi o Amapá. Nas demais 18 UFs, a taxa ficou estável”, disse em nota para a Folha de São Paulo, Adriana Beringuy, coordenadora de pesquisas por amostras de domicílios do IBGE.
Apesar do índice de desemprego no Amapá ainda ser um dos mais altos do Brasil, sua queda merece destaque. O estado não é apenas um exemplo de resiliência econômica, mas também de preservação ambiental. O Amapá é reconhecido como o estado mais preservado do Brasil, com cerca de 95% de sua cobertura florestal original intacta, além de 72% de território intacto pela existência das Unidades de Conservação, como o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque (PARNA Tumucumaque), o maior do país, e Terras Indígenas, ribeirinhos e população remanescente de quilombolas.
O FUTURO JÁ É VERDE – A chave para essa sustentabilidade está na bioeconomia. O Amapá tem adotado práticas que combinam desenvolvimento econômico com a preservação do meio ambiente. A exploração sustentável de inúmeros recursos naturais amazônicos que já são realidade, fora os que estão sendo projetados, em breve agregará à economia do estado de forma mais pujante.
A queda no desemprego no estado pode ser vista como um reflexo positivo da economia verde, que não só contribui para a preservação ambiental, mas também impulsiona setores como o turismo ecológico, a pesquisa científica e a agricultura sustentável. Esses setores têm atraído investimentos e criado oportunidades de emprego em áreas que antes eram pouco exploradas.
O sucesso do Amapá também pode servir de modelo para outros estados brasileiros. Em tempos de crises econômicas e ambientais, a sustentabilidade mostra-se não apenas viável, mas essencial para o desenvolvimento a longo prazo, uma escolha acertada para enfrentar os desafios socioeconômicos atuais.
Embora os números sejam animadores, o Amapá ainda enfrenta desafios significativos. A taxa de desemprego de 10,9% é alta e indica que há muito trabalho a ser feito pelo poder público para melhorar as condições de vida da população. A continuidade das políticas públicas voltadas para o desenvolvimento sustentável é crucial para manter a trajetória de crescimento e redução do desemprego.
Além disso, o impacto das políticas de preservação e bioeconomia precisa ser ampliado e fortalecido. Incentivar a educação ambiental, apoiar pequenos produtores e fomentar o turismo ecológico são caminhos promissores para garantir um futuro sustentável para os amapaenses e, por extensão, para o Brasil.
Enquanto o país enfrenta desafios para estabilizar e reduzir o desemprego, o Amapá oferece uma lição valiosa sobre a importância de políticas que respeitem e aproveitem a biodiversidade.
AMPLIANDO HORIZONTES
Não é somente a bioeconomia, o desenvolvimento sustentável, a coexistência necessária e respeitosa entre o ser humano e o bioma amazônico que têm mantido o estado nessa escala descendente do desemprego.
A construção civil é um dos setores que mais tem crescido no Amapá, sem precedentes, gerando uma quantidade significativa de empregos. Investimentos em infraestrutura, tanto públicos quanto privados, tiveram e têm efeitos positivos.
Obras de urbanização, construção de habitações populares e melhorias em infraestrutura de transporte são exemplos de projetos que têm demandado mão de obra intensiva. É só dar um “rolê” pela capital Macapá, que tem sido um verdadeiro canteiro de obras, e perceber que o turismo, o lazer a gastronomia e outros serviços também começaram a alavancar a economia da capital e do estado.
Apesar de ser conhecido pela sua biodiversidade, o Amapá tem ampliado suas atrações turísticas para além da natureza. Investimentos em infraestrutura turística, promoção de eventos culturais e a melhoria de serviços para turistas têm atraído visitantes de outras partes do Brasil e do mundo. O aumento do turismo gera empregos diretos e indiretos, desde guias turísticos até trabalhadores em hotéis e restaurantes.
Quanto à educação, o estado, em parceria com o governo federal, tem investido significativamente na educação e na formação profissional. A ampliação de escolas técnicas, programas de qualificação e parcerias com universidades têm melhorado a empregabilidade da população. O foco na formação de profissionais qualificados para atender às demandas dos novos setores em crescimento é uma estratégia que está rendendo frutos.
A queda no desemprego no Amapá não é resultado de um único fator, mas de uma combinação de políticas públicas eficazes, investimentos estratégicos e um foco em setores diversificados. Esses esforços têm permitido ao estado não só reduzir sua taxa de desemprego, mas também criar um ambiente econômico mais resiliente e diversificado.
O exemplo do Amapá demonstra que, mesmo em um contexto de desafios econômicos, políticas bem direcionadas e investimentos estratégicos podem fazer a diferença. A trajetória do estado oferece lições valiosas para outras regiões do Brasil, mostrando que a diversificação econômica e o investimento em setores emergentes são caminhos promissores para reduzir o desemprego e promover o desenvolvimento sustentável.
Veja abaixo a taxa de desemprego, em cada estado, calculada pelo IBGE:
TAXA DE DESEMPREGO NO 1º TRIMESTRE DE 2024
UF | Em % | Situação |
Bahia | 14 | Em alta |
Pernambuco | 12,4 | Estável |
Amapá | 10,9 | Em queda |
Rio de Janeiro | 10,3 | Estável |
Sergipe | 10 | Estável |
Piauí | 10 | Estável |
Alagoas | 9,9 | Estável |
Paraíba | 9,9 | Estável |
Amazonas | 9,8 | Estável |
Rio Grande do Norte | 9,6 | Estável |
Distrito Federal | 9,5 | Estável |
Acre | 8,9 | Em alta |
Ceará | 8,6 | Estável |
Pará | 8,5 | Estável |
Maranhão | 8,4 | Em alta |
Roraima | 7,6 | Estável |
São Paulo | 7,4 | Em alta |
Minas Gerais | 6,3 | Em alta |
Goiás | 6,1 | Estável |
Tocantins | 6 | Estável |
Espírito Santo | 5,9 | Estável |
Rio Grande do Sul | 5,8 | Em alta |
Mato Grosso do Sul | 5 | Em alta |
Paraná | 4,8 | Estável |
Santa Catarina | 3,8 | Em alta |
Mato Grosso | 3,7 | Estável |
Rondônia | 3,7 | Estável |