Imagine que a crise climática que o mundo cada vez mais testemunha e sofre há décadas, fosse o principal parâmetro para estipular a tabela de preços de dois dos alimentos mais populares e saborosos que o brasileiro muito aprecia. Uma espécie de ‘inflação ambiental’ do arroz e do feijão, produtos que ultimamente passam por uma verdadeira gangorra no preço final, a maioria das vezes se estabelecendo no patamar mais elevado.
O singelo exercício mental proposto tem sentido, já que tanto as altas quanto as baixas temperaturas recentemente vêm quebrando recordes históricos, de acordo com medições tradicionais como o Serviço Copernicus de Mudança Climática (C3S), que é o programa de observação da Terra da União Europeia (UE).
O CS3 atestou que o janeiro de 2024 superou o de 2020, ou seja, foi o mais quente desde o início dos seus registros em 1950. Então, o mês que inicia 2024, portanto, alcançou alarmantes 1,66º no mundo, a média mais alta que a estimada em janeiro no período entre 1850 e 1900. O que acaba influenciando diretamente nos preços do arroz e do feijão em terras tupiniquins.
Meio ambiente mais protegido, preços controlados
O Rio Grande do Sul, Estado que detém a maior produção de arroz do Brasil, sofreu com chuvas intensas e ciclones em 2023, o que restou prejudicada grande parte da colheita do grão. Ou seja, o desequilíbrio climático fez com que os produtores aumentassem o preço da saca de 50kg de R$ 92,00, em janeiro daquele ano, para R$ 126,00.
A produção de feijão também deve sofrer impacto direto devido as mudanças climáticas. Muito calor: um estudo aponta que em meados de 2050, a temperatura nas regiões de plantação deve subir até 2,8°C. O novo cenário se contrapõe à expectativa de maior demanda pelo alimento no futuro. (fonte: G1). Um fato que chama a atenção de produtores, cientistas e governos, é a redução da área de plantio, tanto de arroz quanto de feijão, que encolheu 30% em 16 anos, resultado da crise climática que vem se acentuando ano a ano.
A realidade da comercialização de ambos os produtos, portanto, é tender a preços que extrapolam o valor normal dos alimentos essenciais à cesta básica, principalmente da população com menor poder aquisitivo. Para se ter uma noção, o preço do quilo do feijão, dos tipos rajado e carioca, os mais populares em venda, nos supermercados de Macapá, têm uma variação de preço entre R$7,50 até R$13,00, dependendo da marca.
O verde ainda pulsa
Além das cúpulas sobre o clima que a Organização das Nações Unidas (ONU) realiza, tanto o Protocolo de Kyoto (1997) quanto o Acordo de Paris (2015) foram base para reuniões entre governantes e autoridades ambientais com o compromisso, por exemplo, pela redução da emissão dos gases de efeito estufa, combate ao desmatamento da Amazônia e a efetivação da energia verde como alternativa aos combustíveis fosseis.
Decerto que medidas foram adotadas que, por ora, evitam um colapso climático, inclusive no Brasil, como a ênfase no carbono verde, preservação de unidades de conservação, como terras indígenas e o Parque Montanhas do Tumucumaque, além de políticas públicas de garantia da sustentabilidade de ecossistemas como o Projeto de Assentamento Agroextrativista (PAE) Maracá, no histórico município de Mazagão, no Amapá, o maior plano de manejo florestal do país.
Mas, é preciso mais investimentos principalmente na conscientização coletiva, de políticas ambientais que realmente prosperem como o combate intransigente a garimpos clandestinos, invasores de terras indígenas, incentivo a uma justa reforma agrária e mais empenho na captação de recursos de outros países, como o Fundo Amazônia. Só assim, o brasileiro voltará a caprichar na feijoada, além de viver em um mundo onde a coexistência entre o humano e a Natureza prevaleça e prospere.