Uma força de segurança composta por vários órgãos, capturou um homem no bairro Marabaixo 4, na Zona Oeste de Macapá, por tráfico de drogas sintéticas. A operação é resultante de uma investigação da Coordenadoria de Inteligência e Operações (Ciop), da Secretaria de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), com apoio da Polícia Militar e do Grupo Tático Aéreo (GTA).
Segundo autoridades, esta operação que resultou na prisão do traficante no Marabaixo 4, é só mais um dos objetivos alcançados e os que ainda virão contra o tráfico de drogas sintéticas. Durante a ação, foram apreendidos uma balança de precisão e embalagens plásticas, indicando a preparação para a distribuição em larga escala. O suspeito tentou se desfazer da droga ao avistar a polícia, mas os agentes conseguiram recuperar todo o material.
É notório que o combate ao tráfico de entorpecentes já dura há décadas. Alguns episódios claramente favoreceram o estado democrático de direito, mas a sensação é a de que os traficantes sempre baterão à porta de quem os deve. Quase impossível analisar um fim para o tráfico se políticos retrógrados pensam no próprio ego, nao com o que a maioria da sociedade deseja. Enquanto a “droga” da política nao faz efeito, existem outras que vão surgindo e que uma boa parcela da sociedade não tem conhecimento: as drogas sintéticas têm, digamos, uma subdivisão para burlar as leis e que também são criadas em laboratório: as design drugs.
LABORATÓRIO DO CRIME
As design drugs e as drogas sintéticas não são exatamente a mesma coisa, mas estão relacionadas. As drogas sintéticas são substâncias químicas produzidas em laboratório, geralmente com o objetivo de imitar os efeitos de drogas naturais (como maconha, cocaína ou opiáceos). Elas são criadas por síntese química, o que significa que seus componentes não são encontrados na natureza.
Exemplos comuns de drogas sintéticas incluem o ecstasy (MDMA), anfetaminas, metanfetaminas, LSD e cathinonas (como o “bath salts”). Essas substâncias podem ter efeitos estimulantes, alucinógenos ou depressores do sistema nervoso central.
Agora, as design drugs são um subconjunto específico de drogas sintéticas. Elas são projetadas para atingir efeitos específicos no sistema nervoso central. O termo “design” refere-se ao fato de que essas drogas são criadas com base em uma estrutura molecular específica, visando aprimorar ou modificar os efeitos desejados.
Exemplos de design drugs incluem Novas Substâncias Psicoativas (NSPs) que surgem no mercado, como derivados de anfetaminas, catinonas sintéticas e canabinoides sintéticos, ou a maconha de laboratório. Em resumo, todas as design drugs são drogas sintéticas, mas nem todas as drogas sintéticas são design drugs.
As design drugs são uma categoria específica dentro do amplo espectro das substâncias químicas criadas artificialmente para fins recreativos ou medicinais. São drogas produzidas em laboratórios clandestinos para imitar os efeitos de drogas ilegais. Entre as mais conhecidas estão o ecstasy (MDMA), LSD (ácido), metanfetamina, efedrina, quetamina e as chamadas “bath salts”.
O MERCADO SINTÉTICO
No Brasil, o mercado dessas substâncias vem crescendo de forma assustadora. Os pontos de venda já não ocorrem apenas em raves clandestinas, mas, idem, em festas que não têm a música eletrônica como “inspiração” para a venda e o uso destas drogas.
Os valores variam conforme a substância e a região. Em Macapá, uma unidade de ecstasy pode custar entre R$ 50 e R$ 100, enquanto a metanfetamina é vendida por valores que podem ultrapassar R$ 200 por grama. Essas drogas são frequentemente comercializadas em festas clandestinas como as mapeadas pela polícia na recente operação no Marabaixo 4.
A MATEMÁTICA DA DROGA
De acordo com a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), o consumo de drogas sintéticas aumentou 40% nos últimos cinco anos. Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) concluiu que cerca de 3,5% da população brasileira já fez uso de alguma droga sintética.
No Amapá, essa incidência é de aproximadamente 2%, com um aumento significativo nos últimos anos. Dados da Polícia Civil do Amapá indicam que, entre 2020 e 2023, houve um crescimento de 25% nos casos de apreensão de drogas sintéticas em festas irregulares, principalmente entre jovens de 18 a 25 anos.
DROGAS NADA “RECREATIVAS”
A DROGA MUSICAL – o ecstasy (3,4-metilenodioximetanfetamina) conhecida popularmente como “MD” ou “doce”, é uma substância psicotrópica sintetizada em laboratório comumente usada em raves clandestinas. Os efeitos recreativos mais comuns são aumento da empatia, estado de euforia e sensação de prazer. O ecstasy atua aumentando a atividade de pelo menos três neurotransmissores: a serotonina, a dopamina e a noradrenalina, os hormônios da felicidade. Seus efeitos duram de três a seis horas.
A DROGA DA CONTRACULTURA – esta conhecida droga sintética tem uma história incidental e criminal. O LSD (Lysergic Acid Diethylamide), ou Dietilamida do Ácido Lisérgico, também conhecida por “ácido”, é uma droga que foi sintetizada em 1938 pelo químico suíço Albert Hofmann. No entanto, as propriedades alucinógenas da droga só foram descobertas em 1943, quando o próprio Hofmann consumiu um pouco de LSD. Esta é a história incidental.
Durante os anos 40, 50 e 60, o LSD foi usado em experimentos por psiquiatras. Apesar de não terem descoberto nenhum uso medicinal para a droga, amostras grátis foram distribuídas amplamente pela Farmacêutica Sandoz como experiência, levando ao amplo uso da substância. Esta é a história criminosa.
Derivada de um alcaloide do fungo Claviceps purpúrea, o LSD é uma das drogas alucinógenas mais potentes que existem. Afetando o sistema nervoso central, a droga compromete os sentidos, alterando o estado de consciência da pessoa, provocando alucinações e alterações de humor. Os efeitos do LSD podem durar até 12 horas.
A DROGA DA GUERRA – A Metanfetamina é um alucinógeno sintético altamente viciante que provoca euforia intensa e seus efeitos colaterais incluem paranoia, alucinações e comportamento violento. A droga foi amplamente utilizada por militares de diversos países, incluindo Alemanha, Japão e Estados Unidos. Era administrada aos soldados para aumentar a resistência, reduzir a fadiga e melhorar a concentração em condições extremas de combate.
Um medicamento conhecido como Pervitin, que continha metanfetamina, foi dado aos soldados alemãos da Wehrmacht (forças armadas alemãs) para mantê-los alertas e focados durante as longas campanhas militares. Soldados e pilotos kamikaze japoneses também usaram metanfetamina para aumentar a agressividade e a resistência.
Durante a guerra, a produção da droga foi massiva para atender à demanda militar. Isso resultou em grandes estoques que acabaram se espalhando para o uso civil após a guerra. E que até hoje causa prejuízos irreparáveis.
A DROGA QUE IMITA – O uso de bath salts começou nos Estados Unidos no início dos anos 2000 como drogas sintéticas projetadas para imitar os efeitos de substâncias ilegais como anfetaminas e MDMA. Elas contêm uma variedade de substâncias químicas sintéticas, sendo as mais comuns a metilenedioxipirovalerona (MDPV), mefedrona e metilona. Essas substâncias são frequentemente vendidas como “sais de banho”, “alimentos para plantas” ou “limpadores de joias” para disfarçar seu uso como drogas recreativas.
Elas provocam nas pessoas exagerada euforia, aumento da energia, empatia e alucinações. Os usuários podem experimentar um aumento na sociabilidade e na libido, mas os efeitos podem variar amplamente devido à composição inconsistente.
Os efeitos que as bath salts causam são imprevisíveis, geralmente possui efeitos colaterais graves, incluindo paranoia extrema, alucinações, comportamento violento, aumento da frequência cardíaca, hipertensão, hipertermia e risco de overdose. A natureza desconhecida dos ingredientes específicos em cada lote fabricado é justamente o que impede o conhecimento sobre os efeitos adversos.
FECHANDO OS LABORATÓRIOS DO CRIME
Em 2023, a Polícia Civil do Amapá realizou várias operações para combater o tráfico de drogas, incluindo drogas sintéticas. Por exemplo, a Operação Nárke, nacionalmente comandada pela Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), do Ministério da Justiça, resultou em 19 prisões e na incineração de aproximadamente 140 quilos de substâncias ilícitas, incluindo maconha, haxixe e LSD.
CERCO TOTAL 1 – em março deste ano, houve duas operações policiais significativas, ocorridas simultaneamente, contra o crime organizado no Amapá. Policiais civis, através da Operação Macaúba, se deslocaram até o Conjunto Mucajá, no bairro do Beirol, na Zona Sul de Macapá, para cumprir mandados de busca, apreensão e de prisão. A operação se concentrou no combate ao tráfico de drogas, especialmente drogas sintéticas, e também abordou outros crimes relacionados, como roubo e porte ilegal de arma de fogo. Durante a operação, foram cumpridos 7 mandados de busca e apreensão. As ações da operação Macaúba resultaram em várias prisões, demonstrando o compromisso contínuo das autoridades em combater o tráfico de drogas na região.
CERCO TOTAL 2 – já a Operação Leviatã foi uma ação extensa e minuciosa da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado no Amapá (Ficco/AP) que cumpriu 30 mandados de busca e apreensão nas cidades de Macapá e Santana. A operação identificou e desarticulou atividades de um grupo criminoso que havia movimentado mais de R$ 3 milhões em menos de um ano. A investigação começou com a análise de um celular apreendido dentro de uma cela no Instituto de Administração Penitenciária do Amapá (Iapen), revelando uma rede de comando e controle de atividades ilícitas dirigidas de dentro da prisão.
Alvos da operação estavam distribuídos em diversos bairros, indicando a extensa rede de influência do grupo criminoso. Por este motivo que a Ficco foi convocada. O Força de segurança composta pela Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Militar, Polícia Civil, Polícia Penal (IAPEN) e pela Secretaria de Justiça e Segurança Pública do Amapá (Sejusp/AP).
FEDERAL X SINTÉTICOS – em 2022, houve 46 operações da Polícia Federal. Uma delas, a Operação Woodstock, foi ativada para debelar o tráfico de drogas sintéticas em Macapá. Durante a operação, um homem foi preso em flagrante com meio quilo de maconha, porções de cocaína e 120 comprimidos de ecstasy. A PF ainda encontrou no veículo do investigado drogas embaladas prontas para a venda, além de uma máquina de cartão.
Já em 2023, a Polícia Federal realizou 70 operações em todo o estado, quase o dobro de 2022. O resultado das apreensões, buscas e mandados de prisão em 2023 foi a apreensão de 83,35 quilos de drogas, incluindo maconha, cocaína e drogas sintéticas e os valores apreendidos ou bloqueados judicialmente, que somaram mais de R$ 15 milhões em 2023, em comparação aos mais de R$ 10 milhões em 2022. Dinheiro do crime que iria movimentar diversos ilícitos, como o tráfico de drogas sintético.
Ainda sobre drogas sintéticas, a Polícia Federal realizou várias prisões relacionadas a este crime no Amapá em 2023. Exemplo é a volumosa Operação Desativado. Em conjunto com o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público Estadual (GAECO/AP) e com apoio da Força Tarefa de Segurança Pública (FTSP) e equipes do BOPE/PM, a PF cumpriu 30 mandados em repressão ao tráfico de drogas sintéticas na capital. Durante a operação, foram cumpridos 16 mandados de busca e apreensão e 12 mandados de prisão preventiva.
Além desta, na Operação Venato 2, a PF cumpriu três mandados de prisão preventiva em investigação que apura a venda de drogas no estilo “delivery”. A averiguação é um desdobramento da Operação Desativado, Delivery e Venato I, no qual foi possível identificar uma rede de comércio virtual de entorpecentes.