O Parque Arqueológico do Solstício, localizado na área rural do município de Calçoene, é próximo à não menos histórica Vila do Cunani. O acesso até o parque, cerca de 30 km, é feito pelo ramal que liga a sede do município à vila. A autorização para a primeira formalização do parque foi concedida pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 2005.
Desde então, arqueólogos, antropólogos e pesquisadores de outras áreas vêm fazendo estudos sobre o “Stonehenge brasileiro“, que possui semelhanças com o mundialmente famoso Stonehenge britânico, como a presença de pedras megalíticas, uma cultura avançada para a época em astronomia e até engenharia e o fenômeno do Equinócio.
De imprescindível relevância para a história do Amapá, não apenas para pesquisas cientificas, mas idem para estudantes, turistas e entusiastas que buscam engrandecer o conhecimento sobre os povos antigos, o parque hoje possui uma estrutura deficiente para essas e outras atividades.
Sabendo da falta de uma infraestrutra mais integrada para cientistas e visitantes, o Núcleo de Pesquisa Arqueológica do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (NuParq/Iepa), enviou um projeto de recriação do parque ao Iphan que o aprovou no último dia 07. O próprio Iepa possui uma base de pesquisas científicas no Parque do Solstício, desde a criação do sítio arqueológico. Continua mais à frente.
JOAQUIM CAETANO DA SILVA: DIPLOMATA DO AMAPÁ
Joaquim Caetano da Silva nasceu em Jaguarão (RS), no extremo sul do Brasil, na fronteira com o Uruguai, no dia 2 de setembro de 1810 e faleceu em Niterói (RJ) em 28 de fevereiro de 1873. Sua vida foi marcada por contribuições significativas como diplomata e professor, tendo um papel importante na educação e na política externa do Brasil do século XIX. Educado na França, onde se formou em Medicina, pela Faculdade de Montpellier, Joaquim Caetano retornou ao Brasil para lecionar no Colégio Pedro II, ensinando retórica, português e grego e mais tarde tornou-se reitor desta prestigiada instituição.
Sua carreira diplomática foi igualmente distinta, servindo como encarregado dos negócios brasileiros na Holanda e cônsul-geral em 1854, onde conduziu negociações cruciais para a delimitação das fronteiras com o Suriname. Além disso, publicou obras influentes, como “L’Oyapock et l’Amazone” (O Oiapoque e a Amazônia), de 1861, defendendo as posições brasileiras na questão limítrofe com a Guiana Francesa.
José Maria da Silva Paranhos Junior, o Barão do Rio Branco, um dos maiores diplomatas da história, fez questão de enfatizar que os subsídios de Joaquim o fizeram ter sucesso pela soberania do Brasil sobre a região contestada do Amapá no histórico Laudo Suíço de 1900. “Sobre os livros de Joaquim Caetano da Silva eu sustentei os direitos do Brasil, na questão Amapá”, escreveu em seus anais.
Joaquim Caetano também dirigiu o Arquivo Nacional do Brasil e foi membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, contribuindo para a preservação e promoção da história e cultura do país. Sua memória é honrada na Academia Brasileira de Letras, onde é o patrono da cadeira número 19, escolhido pelo fundador Alcindo Guanabara.
O Museu Histórico do Amapá leva seu nome em homenagem a suas contribuições significativas. O museu abriga um acervo que inclui artefatos arqueológicos das civilizações Maracá e Cunani, objetos pessoais de Francisco Xavier da Veiga Cabral, o Cabralzinho, e documentos raros da época do primeiro governador do Amapá, Janary Gentil Nunes.
O Museu Histórico do Amapá Joaquim Caetano da Silva, em Macapá, é um dos raros prédios históricos que existem (e resistem) no estado, mas possui uma riquíssima história que já foi bastante ofuscada pelo descaso do poder público. O Museu já ficou fechado por oito longos anos, além de ter passado por várias reformas.
O primeiro museu do Amapá foi o Museu Territorial, criado em 1948 e extinto em 1970 tendo seu acervo incorporado ao Museu Histórico do Amapá Joaquim Caetano da Silva, criado no ano de 1990. A tipologia de acervo que o atual museu possui vai desde a Antropologia, Etnografia, Arqueologia, Artes Visuais, História até Imagem e Som.
UM NOVO PARQUE, A MESMA HISTÓRIA
Aprovado o projeto do Iepa, o governador Clécio Luís (SD), no último dia 19, assinou um protocolo de intenções para a idealização de projetos técnicos para as obras para, tanto do parque quanto do Museu Joaquim Caetano da Silva do diretamente com o presidente do Iphan, Leandro Grass, que veio até ao estado e depois foi a Calçoene para conhecer o potencial cientifico, turístico e socioeconômico que a recriação do parque pode oferecer ao município e ao Amapá, pois a riqueza arqueológica que existe no local necessita de mais estrutura para preservação e proteção da história amapaense.
A revitalização do Parque do Solstício foi integrada aos recursos do Novo PAC Seleções – Patrimônio Cultural, assim como o pum processo de modernizar para uma modernizar um dos poucos prédios públicos históricos do Amapá. O senador Randolfe Rodrigues (Sem partido), líder do governo Lula no Congresso Nacional, repassou repasse de R$ 900 mil ao Governo do Amapá.
“O futuro Parque do Solstício e o Museu Joaquim Caetano tão logo estarão em evidência. Neste primeiro momento, os recursos são para projetos e concepções, em paralelo já vamos buscar investimentos para as obras para fomentar o turismo e a economia. nestes ambientes”, destacou o governador Clécio Luís.
O presidente do Iphan, Leandro Grass, explicou que “reconstruir espaços da nossa cultura é uma maneira de fortalecer e preservar ambientes amazônicos reconhecendo o povo que mora nesta região. Esse é mais um passo para reestabelecer e reconhecer as áreas culturais do país“. Grass ainda completou que o “Parque do Solstício possui um grande potencial para se tornar um patrimônio mundial. E assim que estiver completamente desenvolvido, será um local de preservação importante para os sítios arqueológicos existentes ali e para o estudo da astronomia realizada por ancestrais indígenas em tempos remotos“. Leandro ainda elogiou a capacidade de articulação do senador Randolfe Rodrigues. “É um facilitador de investimentos para o Amapá e a região amazônica”.
O senador Randolfe, que também é historiador, disse que o “Stonehenge da Amazônia” “vai transformar a região e fortalecer o turismo. A missão é preservar nossa história e atrair cada vez mais curiosos e estudiosos à região“.
Ao G1, o arqueólogo Lúcio Costa Leite, do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá, afirmou que “a equipe do Iepa está muito empolgada para ver o impacto positivo que essa iniciativa trará para o município de Calçoene e para todos os amapaenses. Com a criação do Parque do Solstício, a região vai poder celebrar e preservar esse patrimônio arqueológico, nos conectando ainda mais com a história e cultura do estado”, completou o arqueólogo.
No interior do parque, existe o Observatório Astronômico de Calçoene. Esse local é conhecido por seu círculo megalítico, que consiste em pelo menos 127 rochas dispostas em formato circular, no topo de uma colina. Supõe-se que tenha sido construído como um antigo observatório astronômico pelos povos indígenas que habitavam a região.
O círculo megalítico tem 30 metros de diâmetro, com pedras de granito de até 4 metros de comprimento. Assemelha-se a outro círculo megalítico encontrado na Guiana Francesa, cuja datação indica ter mais de 2.000 anos de idade. Provavelmente foi construído há mais de mil anos e usado por pelo menos 300 anos.
O círculo de Calçoene foi apelidado de “Stonehenge do Amapá“, em referência ao famoso Stonehenge, na Inglaterra. Escavações no local estão sendo feitas desde 2006, e a idade estimada do sítio arqueológico está entre 500 e 2.000 anos.
Um dos blocos de pedra do círculo megalítico foi posicionado de maneira que o Sol, durante o solstício de inverno do Hemisfério Norte, que ocorre em torno do dia 21 de dezembro, fique a pino sobre ele, de maneira que sua sombra desapareça.
Além disso, o posicionamento dessa rocha é tal que a projeção de sombras durante todo o dia é diminuta. Esse alinhamento levou os arqueologistas a acreditar que o local tenha sido, no passado, um observatório astronômico e que ao observar o círculo megalítico de Calçoene, estamos na verdade contemplando os resquícios de uma cultura avançada
Quanto à relação com o Stonehenge de Salisbury com o sol, acredita-se que o monumento tenha sido usado como um calendário solar. Em terras britânicas, ocorre o Solstício de Verão. No dia 21 de junho o sol nasce exatamente voltado para a pedra principal daquele sítio arqueológico.
SAIBA MAIS SOBRE A ESTRUTURA MEGALÍTICA
As pedras megalíticas são grandes blocos de pedra utilizados na construção de monumentos milenares. Essas estruturas são típicas dos povos da Pré-História, correspondendo ao período Neolítico que começou cerca de 10 mil anos a.C. e foi até mais ou menos o terceiro milênio a.C. Durante esse período, os seres humanos deixaram de ser nômades e começaram a conviver em sociedades, dedicando-se à agricultura e desenvolvendo ferramentas que os auxiliaram nesse tipo de construção.
SÃO DOIS OS TIPOS DE PEDRAS MEGALÍTICAS
Menir: é um tipo de monumento pré-histórico consistindo em uma grande pedra cravada verticalmente no solo. Estes monumentos são geralmente de tamanho considerável e são especialmente encontrados na Europa Ocidental. Portugal é um país onde há relativa incidência destes monumentos. Eles são associados ao período Neolítico e podem ter servido a vários propósitos, incluindo:
- Marcos territoriais: Indicando a posse ou o limite de um território.
- Pontos de orientação: Guiando para locais específicos.
- Locais de culto: Associados a práticas religiosas ou rituais.
- Monumentos comemorativos: Em honra de deuses ou eventos importantes.
Dólmen: é um tipo de monumento megalítico tumular coletivo, construído por humanos durante o período que vai desde o fim do V milênio a.C. até ao fim do III milênio a.C. na Europa, e até ao I milênio no Extremo Oriente.
Os dólmens são caracterizados por terem uma câmara de forma poligonal ou circular utilizada como espaço sepulcral. A câmara dolmênica é construída com grandes pedras verticais, chamadas esteios ou ortóstatos, que sustentam uma grande laje horizontal de cobertura, conhecida como chapéu, mesa ou tampa. Esses monumentos eram comumente utilizados para sepultar mortos, ocasionalmente acompanhados de suas armas, joias, vasos e outros objetos pessoais.
Existem diversos parques e sítios arqueológicos ao redor do mundo que possuem pedras megalíticas. Aqui estão alguns dos mais famosos:
- Stonehenge, na Inglaterra: Um dos monumentos pré-históricos mais conhecidos do mundo, composto por um conjunto de estruturas circulares de pedras.
- Pirâmides do Egito: Embora não sejam tradicionalmente classificadas como megalíticas, as pirâmides são estruturas monumentais construídas com grandes blocos de pedra.
- Machu Picchu, no Peru: Uma antiga cidade inca construída com técnicas avançadas de engenharia de pedras.
- Ilha de Páscoa: Famosa por suas estátuas gigantes, os moais, que são monólitos esculpidos.
- Cromeleque dos Almendres, em Portugal: Um dos monumentos megalíticos mais antigos da Europa, mais antigo até que Stonehenge.
- Complexo megalítico de Huelva, na Espanha: Um sítio recém-descoberto com mais de 500 rochas, localizado entre os municípios de Ayamonte e Villablanca.
Esses locais são apenas alguns exemplos de onde você pode encontrar estruturas megalíticas impressionantes, que continuam a fascinar pesquisadores e turistas de todo o mundo. Cada um desses lugares tem sua própria história e mistérios, muitos dos quais ainda estão sendo desvendados por arqueólogos e historiadores.
ENTENDA MAIS SOBRE O SOLSTÍCIO
É um fenômeno astronômico que marca o início do verão ou do inverno. Ele ocorre duas vezes por ano e está associado ao eixo de rotação da Terra, cuja posição é inclinada a 23,5º em relação ao seu próprio eixo.
Solstício de Verão: durante o solstício de verão, o Sol incide perpendicularmente sobre o Trópico de Câncer. Isso resulta nos dias mais longos do ano no Hemisfério Norte e nas noites mais curtas. O solstício de verão ocorre por volta dos dias 20 e 21 de junho no Hemisfério Norte e 20 e 21 de dezembro no Hemisfério Sul.
Solstício de Inverno: No solstício de inverno, o Sol incide perpendicularmente sobre o Trópico de Capricórnio. Isso leva aos dias mais curtos do ano no Hemisfério Norte e às noites mais longas. O solstício de inverno ocorre por volta dos dias 20 e 21 de dezembro no Hemisfério Norte, e 20 e 21 de junho no Hemisfério Sul.
Em resumo, o solstício marca os momentos em que o Sol atinge sua maior declinação em latitude em relação à Linha do Equador, resultando em diferentes durações de luz solar nos hemisférios.
OS ENIGMAS DAS ORIGENS
Desde que os monólitos foram descobertos por Emílio Goeldi, zoólogo suíço em visita à Amazônia no século XIX, surgiram várias teorias sobre sua origem. Inicialmente, acredita-se que foram índios aruaques, vindos do Caribe, que construíram o observatório.
Outra teoria sugere que foram comunidades do Norte dos Andes que ergueram as rochas, trazendo-as por rotas terrestresque ligariam as regiões.
Atualmente, a teoria mais provável aponta para o interior da Amazônia, pois foram encontradas cerâmicas enterradas na região, com cultura semelhante às tribos amazonenses, como as louças cerimoniais Aristé ou Cunani, parecidas com as louças marajoaras.
O local só reforça o quanto a História, independente das eras, conjunturas e convergências ou divergências, consegue, através de outras ciências como a arqueologia e a antropologia, preservar e seguir contando, nos capítulos da própria, que, assim como há o famoso Stonehenge britânico, também há o Parque do Solstício em Calçoene, no Amapá.
Aliás, a título de descontraída curiosidade, Stonehenge fica em Salisbury, no condado de Wiltshire, a mais de 7 mil km do município amapaense. E a 140 km de Londres. E só para completar a curiosidade, Stonehenge é uma palavra composta do inglês arcaico. Stone é pedra e henge é eixo.
ENTENDA MELHOR SOBRE O PAC PATRIMÔNIO HISTÓRICO
O PAC Patrimônio Histórico, parte do Programa de Aceleração do Crescimento do Brasil, é uma iniciativa governamental focada na restauração, conservação e promoção do patrimônio cultural brasileiro. Anunciado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 2023, o programa tem como objetivo investir cerca de R$ 712 milhões até 2026 em 139 obras espalhadas por 35 municípios em 17 estados. Essas ações são realizadas em colaboração com municípios, estados, o Distrito Federal e outros órgãos federais, visando a revitalização das cidades históricas e a preservação dos monumentos, contribuindo assim para o desenvolvimento econômico e social e o suporte às cadeias produtivas locais.