O senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP) foi entrevistado pela Folha de São Paulo para amainar os ares após derrotas relevantes do governo Lula na última semana. O líder do governo no Congresso Nacional defende que a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, deva focar na agenda econômica para evitar que os oposicionistas, centralmente os parlamentares bolsonaristas, se beneficiem de pautas morais e comportamentais.
“Quanto mais nos distanciarmos para outros temas, mais espaço há para o florescimento da extrema direita”, afirmou Randolfe. Contudo, ele enfatiza que o governo não se omitirá dessas discussões. Para o senador, a derrubada do veto de Lula a um trecho do projeto que restringe a saída temporária de presos, reflete também a postura de parlamentares conservadores que fazem parte da base aliada do governo.
O senador destaca que “o pacto da governabilidade” com esses partidos deve estar fundamentado na “melhoria da qualidade de vida dos brasileiros” e na defesa da democracia. “Em relação a outros temas, todos conhecemos a posição de cada um”, comentou Rodrigues. “Ninguém omitiu suas posições para integrar o governo.”
TAXAÇÃO DE 20%
Segundo ele, antes da votação ocorrida dia 05, “não haveria razão” para Lula vetar a taxação de compras internacionais caso o Senado decida aprovar o texto que passou pela Câmara na semana passada. A votação estava prevista para terça-feira, 4, mas foi adiada para quarta-feira, 5, devido a um impasse com o relator do texto, o senador Rodrigo Cunha (Podemos-AL).
Mais tarde, o Senado aprovou o projeto de lei relacionado à taxação de compras internacionais (PL 914/2024). Este projeto inclui a aplicação de um imposto de 20% sobre compras internacionais de até 50 dólares. A aprovação foi vista como uma derrota parcial do governo Lula, embora aliados do governo tenham conseguido reincluir a taxação no texto final e aprová-la.
Além disso, a necessidade de fazer concessões e ajustes ao texto original pode ser interpretada como uma demonstração das limitações do governo em lidar com um Congresso de perfil conservador e reacionário em certos temas.
ARTHUR LIRA E RODRIGO PACHECO
Randolfe reafirma que Lula considera Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG) como aliados e que os partidos deles fazem parte do governo. Ele acredita que “a sucessão na Câmara e no Senado deve ser liderada por Lira e Pacheco, respectivamente” e que está confiante de que seus sucessores manterão o nível de cooperação atual com o governo.
DIAGNÓSTICO DE LULA
Randolfe explicou que o presidente Lula reconheceu que os resultados das votações do Congresso do dia 28 eram esperados, especialmente em relação à saída temporária de presos e às chamadas fakes news. O Congresso eleito em 2022 tem um perfil conservador em temas de costumes e segurança pública, com um núcleo reacionário ligado ao bolsonarismo muito forte e atuante. O senador amapaense acredita que o governo fez tudo o que estava ao seu alcance na articulação política e que qualquer outro ministro não teria conseguido resultados diferentes.
GOVERNO LULA E TEMAS DE COSTUMES
Randolfe afirma que o governo não se esconderá em relação às suas posições, mas reconhece que o Congresso é atualmente mais influenciado por um perfil conservador. Ele ressalta que “Lula foi eleito com os compromissos de defender a democracia brasileira, reconstruir o país e melhorar a qualidade de vida do povo”.
E argumentou ainda que “quanto mais o governo focar em garantir emprego e comida na mesa dos brasileiros, maiores serão as chances de sucesso”. Randolfe também reconhece que os partidos da base aliada mantêm suas posições conservadoras em temas de costumes, mas defende que a aliança governista é uma coalizão ampla e democrática.
REFORMA MINISTERIAL E CRÍTICAS
Randolfe nega que o presidente Lula esteja considerando uma reforma ministerial e afirma que o núcleo político de confiança do presidente permanece o mesmo. O senador também defende sua atuação como líder, aceitando críticas construtivas sobre a necessidade de mobilizar melhor a base governista para os debates políticos no Congresso.
PEC DAS PRAIAS
O parlamentar se posiciona contra a proposta da PEC das Praias, considerando-a absurda e inaceitável, principalmente por proibir a maioria dos brasileiros mais pobres de ter acesso às praias. Ele sugere que a questão da tributação de laudêmio, foro e IPTU seja debatida separadamente, pois a proposta atual está irremediavelmente contaminada.
REELEIÇÃO DE LULA
Randolfe expressa confiança na liderança de Lula, afirmando que só ele seria capaz da vitória nas eleições de 2022 e que sua condução atual dará segurança para a recuperação da economia brasileira até 2026. O senador acredita que a economia recuperada será o maior ativo do governo para a próxima eleição.
DESAFIOS INTERNOS E SUSTENTAÇÃO DE COALIZÃO
Rodrigues diz que o governo precisa equilibrar suas escolhas com as demandas de seu eleitorado de esquerda, que inclui grupos e ativistas ligados à defesa dos direitos humanos, pautas ambientais e proteção de minorias.
“Além disso, Lula precisa assegurar até onde vai o apoio do Centrão, que pode apoiar a eleição de um candidato opositor caso as preferências se alinhem”. O senador acredita que o crescimento econômico manterá a coalizão unida, mas reconhece os desafios dessa aposta.
O senador Randolfe Rodrigues enfatiza a importância de focar na agenda econômica para garantir a governabilidade e evitar o fortalecimento da extrema direita. Ele destaca a necessidade de um projeto econômico coerente e realista e critica a falta de disposição do PT para compartilhar poder com seus parceiros de coalizão. As escolhas do governo, segundo Randolfe, “aumentam os desafios na gestão econômica e política da coalizão partidária”, mas ele se mantém confiante na liderança de Lula para superar esses obstáculos.