Hoje, o comandante estaria completando 106 anos, sendo que 16 deles foram de dedicação máxima e incansável para iniciar o desenvolvimento do estado. E êxito teve, não importando contexto ou adversário, inaugurando não apenas obras físicas, mas sim novas maneiras de se pensar o Amapá como um estado promissor.
Hoje, tiramos o chapéu, de preferência azul, em reverência a uma personalidade da história amapaense que praticamente iniciou a construção da infraestrutura do atual Estado do Amapá – Território Federal até 1988.
Anibal Barcellos passou uma infância marcada por simplicidade e trabalho árduo. Nascido em 10 de julho de 1918, em Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, Barcellos cresceu em uma família modesta. Seu pai, Manuel Barcelos Filho, era operário, e sua mãe, Minervina Barcelos, era dona de casa.
Desde jovem, Barcellos teve que trabalhar em diversas ocupações para ajudar no sustento da família. Ele atuou como vendedor ambulante e ajudante de pedreiro, entre outras atividades, o que moldou seu caráter resiliente e determinado. Essas experiências iniciais foram fundamentais para o desenvolvimento das habilidades de liderança que ele levaria para sua carreira militar e política.
CARREIRA NA MARINHA
Em 1939, Anibal Barcellos ingressou na Marinha do Brasil, onde se formou na Escola de Guerra Naval. Ao longo de sua carreira militar, alcançou o posto de capitão de mar e guerra e foi responsável pelo departamento de convés do navio-escola Duque de Caxias. Suas missões incluíram instruir guardas-marinhas e integrar comissões de estudo no exterior, como a que visitou os Estados Unidos para observar métodos de comando da marinha norte-americana.
PERSONALIDADE E LIDERANÇA
Na vida pessoal, Barcellos era conhecido por sua disciplina militar e carisma. A combinação de firmeza e acessibilidade fez dele um líder respeitado e amado pelo povo. Ele tinha um equilíbrio entre a rigidez da carreira militar e a ternura no ambiente familiar, especialmente destacado por sua esposa, Maria Cerqueira Barcelos, chamada por ele carinhosamente como Mariinha, fato curioso já que ele foi oficial da Marinha.
Reconhecido carinhosamente como “Comandante” e famoso por seus icônicos bonés azuis nas campanhas eleitorais e até no cotidiano, que se tornaram uma marca registrada e símbolo de sua conexão com o povo. Até hoje. Sua habilidade em comunicar e inspirar confiança entre os eleitores foi um fator determinante para suas vitórias nas urnas. Ele combinava um estilo de liderança autoritário, quando necessário, com uma abordagem empática, ouvindo as demandas da população e buscando soluções práticas para os problemas enfrentados pelo estado.
BARCELLOS: A GÊNESE DO DESENVOLVIMENTO DO AMAPÁ (1979-1985)
Em 1979, nomeado pelo então presidente João Figueiredo, Anibal Barcellos assumiu pela primeira vez o cargo de governador do ainda Território Federal do Amapá que, após 45 anos, se tornou Estado do Amapá através da Constituição de 1988. Barcellos certamente tinha conhecimento de que o período de governos militares estava findando, como ocorreu em 1985.
E, para isso, astuto e sagaz que era começou o que para muitos historiadores é fato: o desenvolvimento do Amapá, a gênese do que hoje vivemos. Era urgente, óbvia e necessário que a infraestrutura do Amapá começasse. Barcellos foi o primeiro governador pós-ditadura que teve a responsabilidade de construir a base do que hoje é o Amapá moderno. Durante seu primeiro mandato, ele focou na construção de estradas, escolas e unidades de saúde, visando integrar as diversas regiões do estado e melhorar a qualidade de vida da população.
Barcellos teve uma participação importante na construção da BR-156, ligando Macapá ao interior e facilitando o escoamento da produção agrícola e o acesso a serviços essenciais. Apesar de não ter sido, durante seus dois mandatos como governador do Amapá, o responsável inicial pela construção da BR-156, seu governo deu suporte aos esforços de infraestrutura, buscando recursos federais para avançar na pavimentação da rodovia.
Entre as diversas realizações como governador para que o desenvolvimento do Amapá prosseguisse, Barcellos construiu o Porto de Santana. A obra teve início em 1980 e foi oficialmente inaugurada em 6 de maio de 1982, durante seu primeiro mandato como governador. Inicialmente conhecido como Porto de Macapá, o porto foi construído para atender à movimentação de mercadorias por via fluvial, sendo posteriormente renomeado para Porto de Santana após a criação do município de Santana em 1987.
O Comandante também expandiu a rede elétrica no estado, levando luz para comunidades isoladas e promovendo o desenvolvimento econômico. Sob sua liderança, a taxa de eletrificação nas áreas rurais aumentou em mais de 40%. Durante esse período, Barcellos também investiu na educação. Foram construídas várias escolas em áreas urbanas e rurais, aumentando significativamente o acesso à educação de qualidade. Além disso, foram implementados programas de treinamento para professores, visando melhorar o padrão de ensino no estado.
O COMANDANTE ECOLÓGICO (1991-1995)
Reeleito governador em 1991, Barcellos deu continuidade aos projetos iniciados em seu primeiro mandato e lançou novas iniciativas para modernizar o estado. Implementou programas de incentivo à agricultura e ao turismo, promovendo o potencial natural do Amapá. Visionário, suas políticas de desenvolvimento sustentável e preservação ambiental começaram a moldar o estado como um destino ecoturístico de renome.
Anibal Barcellos foi um líder visionário e determinado. Sua personalidade forte e disciplinada foi crucial para implementar projetos de infraestrutura que transformaram o Amapá. Ele era meticuloso e estratégico, qualidades que foram essenciais para a execução de grandes obras.
Engana-se quem acha que as discussões e planejamentos de projetos que facilitem a coexistência entre o ser humano e a floresta iniciaram nos dias de hoje, assuntos dos mais atuais, a bioeconomia já se desenvolvia naquela época. Durante o segundo mandato de Barcellos, o número de turistas aumentou em 30%, e a produção agrícola do estado cresceu 25%.
Outra realização significativa foi a criação de programas de saúde pública que levaram atendimento médico às regiões mais remotas do estado. Foram construídos novos postos de saúde e hospitais, além da aquisição de ambulâncias e equipamentos médicos modernos.
PREFEITO DE MACAPÁ E DEPOIS “APUGENTA” (1997-2001)
Após sua trajetória como governador, Anibal Barcellos assumiu a Prefeitura Municipal de Macapá em 1997. Como prefeito, ele novamente se destacou pela gestão eficiente e focada em resultados concretos. Investiu na urbanização da capital, melhorando o saneamento básico e a infraestrutura urbana. Sua administração foi marcada pela revitalização de áreas públicas e pela construção de novos espaços de lazer e cultura, como parques e bibliotecas.
Durante seu mandato, a cobertura de saneamento básico na cidade aumentou de 30% para 70%, e o número de escolas municipais cresceu em 50%. Barcellos também priorizou a saúde pública, resultando na construção de novos postos de saúde e na ampliação dos serviços médicos oferecidos à população.
O Comandante também foi responsável pela criação de programas sociais voltados para a juventude e para as famílias de baixa renda. Esses programas incluíam cursos de capacitação profissional, atividades esportivas e culturais, e assistência social, visando reduzir a desigualdade e promover a inclusão social.
O LEGADO DO COMANDANTE
Anibal Barcellos era admirado por sua liderança firme e determinação em conduzir o Amapá rumo ao progresso. Seus bonés azuis, utilizados nas campanhas eleitorais, se tornaram um símbolo de sua presença marcante e de sua conexão com o povo.
Barcellos foi um líder visionário que enfrentou os desafios do estado com coragem e inovação. Ele foi responsável por implementar políticas que não existiam anteriormente, estabelecendo uma infraestrutura sólida que permitiu o crescimento e a modernização do Amapá.
Hoje, ao celebrarmos o que seria o 106º aniversário de Anibal Barcellos, o povo do Amapá expressa sua gratidão eterna por seu incansável trabalho e dedicação. Sua trajetória de vida, marcada por conquistas e pelo amor ao estado, deixou um legado que perdurará por muitas gerações. Se o Amapá é, hoje e amanhã, assim como o conhecemos, foi obra do Comandante construtor.