Amapá começa a vacinar contra a poliomielite; meta é superar a própria de 2023

Ano passado, o Amapá foi referência nacional na cobertura vacinal contra a paralisia infantil (poliomielite). O estado ultrapassou 90% de imunizações. Todas as UBSs do estado estão habilitadas para as vacinas VIP e VOP.
Fotomontagem: Curso Ciências Econômicas - Universidade Federal do Espírito Santo

A Campanha Nacional de Vacinação contra a poliomielite (também conhecida como paralisia infantil), iniciou ontem, 27, e irá até o dia 14 de junho em todas as unidades de saúde. A expectativa do Ministério da Saúde é chegar à meta de imunizações de 95%, o que não aconteceu em 2023 por uma série de fatores adversos que estão explicados mais abaixo neste texto. O Amapá, em 2023, junto com a Paraíba, foram os únicos estados a ultrapassar os 90%.

Amapá espera igualar – ou ultrapassar – a meta de 95% de imunizações contra a poliomielite. Foto: Fábio Motta/Estadão

A responsabilidade de relativo número de pais e responsáveis em proteger seus filhos deveria acontecer na mesma velocidade em que a ciência inova nas pesquisas sobre saúde. Mas, um surto de analfabetismo vacinal é um vírus que se espalhou, mas está sendo combatido. Pela ciência

Embora o Brasil não registre casos de desde 1989 e tenha sido certificado como área livre de circulação do vírus em 1994, o país foi reclassificado em 2022 como área de alto risco para a reintrodução do vírus. A motivo da reclassificação do Brasil é a queda nas taxas de cobertura vacinal nos últimos anos. Essa diminuição na vacinação torna a população mais vulnerável ao poliovírus.

MS ESPERA ALCANÇAR META EM 2024

Fotomontagem: Ministério da Saúde.

No Brasil, a campanha de vacinação de 2023 revelou números frustrantes referentes ao planejado pelo Ministério da Saúde. A meta, a mesma para este ano, era imunizar 95% das crianças menores de 5 anos, aproximadamente 14,3 milhões de crianças. Em 2022, apenas 77% das crianças receberam a dose da vacina. Em 2023, a cobertura vacinal aumentou para 83%, mas ainda está abaixo do objetivo do ministério.

A POLIOMIELITE NÃO TEM CURA

Um dos aspectos mais alarmantes da poliomielite é a ausência de um tratamento específico. Não há cura para a doença, as vítimas de contágio precisam ser hospitalizadas para receber tratamento sintomático, que varia conforme o quadro clínico do paciente. O tratamento se concentra em aliviar os sintomas, como dor e espasmos musculares e em prevenir complicações respiratórias.

As sequelas da paralisia infantil são graves e estão diretamente relacionadas à infecção da medula espinhal e do cérebro pelo poliovírus. Normalmente, essas sequelas são motoras e incluem fraqueza muscular, paralisia e deformidades. 

VACINAÇÃO JÁ!

É imprescindível que pais e responsáveis compreendam a importância da vacinação. Não vacinar as crianças não é apenas um risco individual, mas uma ameaça à saúde pública. Cada criança vacinada é uma barreira a mais contra a disseminação do vírus.

As unidades de saúde em todo o país estão prontas para receber as famílias e garantir que todas as crianças sejam vacinadas. O Programa Nacional de Imunizações (PNI) fornece vacinas gratuitamente, tornando o acesso à imunização um direito de todos. Verifique a caderneta de vacinação do seu filho e procure a unidade de saúde mais próxima. 

AMAPÁ É REFERÊNCIA

O Amapá tem se destacado como um exemplo de sucesso na vacinação infantil no Brasil, especialmente na luta contra a poliomielite. Em 2023, o estado atingiu uma cobertura vacinal de 95,10% contra a doença, superando a meta estabelecida pelo Ministério da Saúde de imunizar 95% das crianças de 1 ano a menores de 5 anos. 

Fotomontagem: Ministério da Saúde.

Neste mesmo ano, o Amapá imunizou 59,6 mil das 62,6 mil crianças do público-alvo contra a paralisia infantil. Este feito foi possível graças a uma série de ações coordenadas que aumentaram a cobertura vacinal consideravelmente para garantir que todas as crianças tivessem acesso à vacina.

O sucesso do Amapá na vacinação contra a poliomielite pode ser atribuído a ações como a colaboração entre o Governo do Amapá e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e com o projeto Pela Reconquista das Altas Coberturas Vacinais (PRCV), coordenado pelo Ministério da Saúde e a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

A estratégia de microplanejamento também permitiu uma abordagem mais personalizada e eficiente, adaptando as ações de vacinação às características locais dos municípios. Isso incluiu vacinação em escolas, busca ativa de não vacinados e campanhas de conscientização intensivas.

Em 2023, foram entregues 15.160 doses da vacina contra a poliomielite aos municípios do estado, garantindo que as unidades básicas de saúde estivessem bem abastecidas para atender à demanda.

O desempenho exemplar do Amapá serve de modelo para outras regiões do Brasil. Além do estado amapaense, apenas a Paraíba conseguiu ultrapassar a meta de 90% de cobertura vacinal.

Fotomontagem. Divulgação Ministério da Saúde.

VACINAÇÃO ADIADA NO RS

O Ministério da Saúde aceitou o pedido do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (CEVS) para adiar a campanha até o dia 14 de junho, devido à situação de calamidade causado pelo desastre climático ocorrido no Rio Grande do Sul. No entanto, a área técnica do Programa Nacional de Imunizações (PNI), ainda não definiu uma nova data para o início da campanha no estado. O adiamento da campanha nacional contra a poliomielite no RS, anunciado nesta segunda-feira, 27, não significa a falta de doses do imunizante para o público-alvo. 

ESQUEMA DE IMUNIZAÇÃO

Entenda o processo de vacinação contra a doença:

A Vacina Oral contra a Poliomielite (VOP) é comumente conhecida como a “vacina de gotinhas“, administrada por via oral. Esta vacina contém vírus vivos atenuados e é a forma mais tradicional de imunização contra a poliomielite. A VOP tem reforços orais aplicados aos 15 meses e aos 4 anos de idade, além das campanhas de vacinação com crianças de 1 a 4 anos.

Vacina Oral contra a Poliomielite (VIP). Foto: Rogério Capela/CBN Campinas

Enquanto a Vacina Inativada contra a Poliomielite (VIP), administrada por meio injetável, contém vírus mortos. Este imunizante é parte do calendário básico de vacinação e geralmente é aplicada em conjunto com outras vacinas injetáveis durante as visitas de rotina ao posto de saúde. A VIP é aplicada aos 2, 4 e 6 meses de idade.

Vacina Inativada contra a Poliomielite (VIP). Foto: Daniel Castellanos/MSC

Esse esquema combinado utiliza a VIP para as primeiras doses, garantindo uma imunização inicial eficaz, e a VOP para os reforços em campanhas de vacinação em massa, contribuindo para a interrupção da transmissão do vírus. 

Importante: O Ministério da Saúde anunciou que irá substituir gradualmente a VOP pela VIP a partir de 2024. Após essa transição, a VIP será usada exclusivamente para a imunização contra a poliomielite, e não será mais administrado um reforço contra a pólio aos 4 anos. Lembrando que a vacinação não deve ser realizada em crianças com febre moderada a alta (acima de 38 ºC). 

POSSÍVEIS EFEITOS COLATERAIS

Como todas as vacinas, a VOP e a VIP, podem causar alguns efeitos colaterais, embora a maioria seja leve e temporária. Possíveis efeitos associados a cada tipo de vacina:

A Vacina Oral contra a Poliomielite (VOP) pode causar diarreia leve, irritabilidade e febre baixa. Em casos extremamente raros, a VOP pode causar poliomielite associada à vacina (VAPP) em crianças com sistemas imunológicos enfraquecidos. A poliomielite associada à vacina ocorre quando o vírus da vacina consegue causar poliomielite na pessoa vacinada ou em quem convive com ela. Isso pode acontecer de quatro a 40 dias após a vacinação. A taxa de registros é de um caso para cada 3,2 milhões de doses aplicadas.

A Vacina Inativada contra a Poliomielite (VIP) pode causar dor ou vermelhidão no local da injeção, febre baixa, cansaço e perda de apetite. A VIP, em casos de efeitos colaterais mais graves, pode causar reações alérgicas graves (anafilaxia), que são extremamente raras mas possíveis com qualquer vacina.

Ambas as vacinas são consideradas seguras e eficazes pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e outras entidades de saúde pública. Os benefícios da vacinação, que incluem a prevenção da paralisia e morte causadas pela poliomielite, superam amplamente os riscos de efeitos colaterais.

DESINFORMAÇÃO NÃO TEM VACINA

A falta de conscientização sobre a importância da vacinação infantil pode ser influenciada por uma série de fatores que chegam a ser criminosos, como a desinformação. Abaixo, alguns dos principais vilões contra a saúde pública. 

1. Fake news sobre as vacinas: a disseminação de informações falsas e mitos sobre vacinas é um dos maiores obstáculos para a vacinação. Teorias conspiratórias e alegações infundadas sobre a segurança e eficácia dos imunizantes podem causar medo e hesitação nos pais. Mitos comuns incluem a falsa ligação entre vacinas e autismo, bem como preocupações infundadas sobre efeitos colaterais graves.

Charge: Cazo.

2. Falta de educação e conscientização: a falta de educação sobre os benefícios das vacinas e a importância da imunização podem levar à negligência. Programas de educação em saúde pública que não atingem todas as camadas da população, podem deixar lacunas de conhecimento significativas.

3. Influência social e cultural: normas culturais e influências sociais podem desempenhar um papel importante. Em algumas comunidades, tradições e crenças culturais podem desencorajar a vacinação. A pressão social de grupos antivacina também pode influenciar decisões individuais.

4. Conflitos e desastres naturais: em áreas afetadas por conflitos armados ou desastres naturais, a infraestrutura de saúde pode ser severamente prejudicada, dificultando a realização de campanhas de vacinação e o acesso aos serviços de saúde. Que é o caso, infelizmente, do Rio Grande do Sul. 

5. Influência de grupos antivacina: os movimentos antivacina têm ganhado força em várias partes do mundo, propagando desinformação e teorias conspiratórias sobre vacinas. Esses grupos frequentemente utilizam plataformas de redes sociais para espalhar mensagens alarmistas e infundadas sobre supostos perigos das vacinas. A influência desses movimentos pode ser poderosa, levando pais preocupados a questionar a segurança e a eficácia das vacinas, mesmo diante de evidências científicas robustas que comprovam seus benefícios.

A conscientização sobre a importância da vacinação é heterogênea e requer uma abordagem abrangente para superar os obstáculos. Combater a desinformação com informações precisas e acessíveis, melhorar a infraestrutura de saúde, oferecer suporte logístico e abordar as preocupações culturais são passos essenciais para garantir que todas as crianças recebam as vacinas necessárias para protegê-las contra doenças preveníveis, como a poliomielite.

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