O açaí, fruto típico da Amazônia, tem ganhado cada vez mais atenção não apenas por seu sabor, mas principalmente pelos inúmeros benefícios que oferece à saúde. Rico em antioxidantes, fibras, vitaminas e minerais, o açaí é objeto de estudos que apontam suas propriedades benéficas, como a redução dos níveis de colesterol, melhoria da saúde cardíaca, além de efeitos anti-inflamatórios e anticancerígenos. Há ainda evidências de que o açaí pode contribuir para a saúde mental, auxiliando no combate à ansiedade e ao estresse.
A descoberta do potencial do açaí para tratamentos de transtornos de ansiedade vem de pesquisas conduzidas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), desde 2004. Essas pesquisas, lideradas pela professora Graziele Freitas de Fem, do Instituto de Biologia Roberto Alcântara Gomes (Ibrag) da Uerj, utilizam a semente da fruta. A investigação é inédita, pois a maioria dos estudos se concentra na polpa do açaí. Os resultados indicam que os compostos da semente podem ser muito benéficos para o sistema nervoso central, auxiliando em tratamentos de saúde mental.
Pesquisas recentes lideradas por especialistas em nutrição e saúde pública têm explorado o potencial do açaí para o desenvolvimento de suplementos e medicamentos. A ideia é que, no futuro, seja possível concentrar os benefícios do fruto em formas mais acessíveis e eficazes para o tratamento de diversas condições de saúde. No entanto, este é um processo que exige uma série de estudos clínicos e regulamentações para garantir a segurança e eficácia desses novos produtos.
AÇAIOLÍTICO – nos testes realizados com animais, os pesquisadores descobriram que a semente do açaí age de maneira benéfica no sistema nervoso central, desempenhando uma ação ansiolítica.
A investigação é considerada inédita porque trabalha com o caroço, ao contrário da maioria das pesquisas que estudam a polpa do fruto, como explica a professora doutora Graziele Freitas de Bem, do Departamento de Farmacologia e Psicobiologia da Uerj, para a Agência Brasil.
“Observamos que o substrato hidroalcoólico do açaí tinha um conteúdo maior de polifenóis, que são os compostos químicos que promovem os efeitos benéficos e também é um efeito vasodilatador mais potente. Isso é importante para reduzir o impacto ambiental porque a maior parte do fruto é composta pelo caroço. A polpa é uma pequena parte desse fruto e nós poderíamos dar um bom destino, né? Uma boa utilização para esse caroço que normalmente é descartado.”
O extrato da semente do açaí pode ser uma alternativa para o tratamento da ansiedade sem efeitos colaterais, disse Graziele de Bem, bióloga e doutora em Biociências Nucleares.
A psiquiatra Patrícia Mendes, mestra em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará, Psiquiatra afirmou o potencial do açaí em auxiliar no tratamento da ansiedade é promissor. Os flavonoides presentes no fruto podem influenciar positivamente o humor e a cognição, reduzindo os níveis de estresse e promovendo um estado de bem-estar”, sustentou.
Outros derivados do açaí também incluem o óleo de açaí, que é extraído da polpa do fruto e utilizado tanto na indústria cosmética quanto na culinária. O óleo de açaí é valorizado por suas propriedades emolientes e nutritivas, sendo um excelente ingrediente em produtos para cuidados com o cabelo e a pele. Na gastronomia, o óleo de açaí é utilizado para enriquecer pratos com seu sabor único e suas qualidades nutricionais.
O médico nutrólogo, doutor pela Universidade de São Paulo (USP) em Medicina Pediátrica, Carlos Almeida, Médico, garante que a inclusão do açaí na dieta pode trazer diversos benefícios à saúde. Seus antioxidantes e fibras ajudam na digestão e na desintoxicação do corpo, e suas propriedades anti-inflamatórias podem auxiliar no alívio de condições como a ansiedade.”
A produção do açaí está profundamente enraizada na região amazônica, especialmente nos estados do Amapá e do Pará. As palmeiras de açaí crescem nas áreas alagadas da floresta, e a colheita do fruto é realizada principalmente por ribeirinhos, seguindo métodos tradicionais que preservam a biodiversidade local. E práticas de comércio justo, somadas à sustentabilidade vêm sendo efetivadas nas comunidades.
AÇAÍ, REMÉDIO NATURAL – paralelamente, a ansiedade é um problema de saúde mental que tem crescido de forma alarmante em todo o mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 260 milhões de pessoas sofrem de transtornos de ansiedade globalmente.
Segundo ainda a OMS, no Brasil, 9,3% da população sofria com transtornos de ansiedade em 2019. Uma pesquisa mais recente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgada em janeiro de 2024, mostrou um aumento de 75% no uso de psicofármacos ao comparar períodos antes e depois a pandemia de Covid-19.
O Brasil se destaca negativamente nesse contexto, com cerca de 9,3% da população – aproximadamente 19 milhões de brasileiros – enfrentando algum tipo de transtorno de ansiedade. Este índice coloca o país no topo do ranking mundial de ansiedade. No estado do Amapá, a situação também é preocupante. A falta de acesso a serviços de saúde mental e a escassez de profissionais qualificados agravam o problema.
Fatores socioeconômicos e culturais específicos da região também contribuem para o aumento dos casos de ansiedade. No entanto, há iniciativas locais surgindo para enfrentar esse desafio, incluindo programas de apoio psicológico e campanhas de conscientização sobre a importância da saúde mental.
Além de seus benefícios para a saúde, o açaí possui uma diversidade surpreendente como matéria-prima. O açaí em pó, por exemplo, tem sido amplamente utilizado na indústria cosmética devido às suas propriedades antioxidantes e hidratantes. Esse derivado é incorporado em produtos como cremes, loções e máscaras faciais, promovendo a revitalização da pele e combatendo os sinais do envelhecimento.
O açaí, portanto, emerge não apenas como um alimento nutritivo e saboroso, mas também como uma potencial solução para diversos problemas de saúde, inclusive os relacionados à saúde mental. A relação entre o fruto e as comunidades locais na Amazônia, promovida por empresas responsáveis, mostra que é possível aliar sustentabilidade, justiça social e benefícios à saúde, criando um modelo que pode servir de exemplo para outras regiões e produtos.