Na carta, Lula afirma que a linha editorial do grupo é marcada por “censura” e “difamação”, especialmente durante os processos judiciais a que foi submetido. O presidente argumenta que as acusações que o levaram à prisão foram baseadas em “atos indeterminados” e reforça que foi vítima de um julgamento parcial, conforme revelado por reportagens do The Intercept, que teriam sido “censuradas” pela emissora.
“Enquanto não for reconhecido e corrigido o tratamento editorial difamatório das Organizações Globo, não será possível acolher um pedido de entrevista como parte de uma normalidade que não existe”, escreveu Lula.
A carta reacende o debate sobre a atuação da mídia hegemônica no Brasil e sua relação com o poder político e judicial, especialmente no contexto da Operação Lava Jato.
Veja na integra que Lula escreveu a Bernardo Mello Franco:
via João Madrigal
“Prezado Bernardo,
Agradeço o convite para uma entrevista para o jornal O Globo em uma série sobre ex-presidentes da República. Seu convite destoa da censura imposta pelas Organizações Globo. Não confundo as organizações com as diferentes condutas profissionais de cada um dos seus jornalistas.
O que me impede de atendê-lo é o notório tratamento editorial que as Organizações Globo adotam em relação a mim, meu governo e aos processos judiciais ilegais e arbitrários de que fui alvo, que têm raízes em inverdades divulgadas pelos veículos da Globo e jamais corrigidas, apesar dos fatos e das evidências nítidas, reconhecidas por juristas no Brasil e no exterior.
As próprias sentenças tão celebradas pela Globo são incapazes de apontar que ato errado eu teria cometido no exercício da presidência da República. Fui condenado por ‘atos indeterminados’.
Ao invés de ser analisada com isenção jornalística, a perseguição judicial contra mim foi premiada pelo O Globo. As revelações do site The Intercept foram censuradas, escondendo as provas de que fui julgado por um juiz parcial, em conluio com os promotores, que sabiam da fragilidade e falta de provas da sua acusação.
Enquanto não for reconhecido e corrigido o tratamento editorial difamatório das Organizações Globo não será possível acolher um pedido de entrevista como parte de uma normalidade que não existe, pelos parâmetros do jornalismo e da democracia.
Luiz Inácio Lula da Silva”