No dia 5 de março completou onze anos desde que fui submetido à cirurgia bariátrica. Eu estava com 164 quilos, peso bem acima do que meu corpo, com 1,72m podia tolerar. Eu sempre resisti à possibilidade de me submeter à cirurgia pela lembrança recorrente de dois amigos, que morreram na tentativa de vencer a obesidade: o advogado Vitório e o professor Chris Natal.
Penso que as orientações que busquei e a relação de confiança que estabeleci com o cirurgião Alcides Pingarilho, me encorajaram. O Alcides é um sujeito extraordinário. Opera como quem pinta uma obra de Monet ou toca ao piano uma sinfonia de Beethoven. Como ele, só mesmo o Alejandro Cadena.
A técnica utilizada pelo doutor Alcides é a chamada “Sleeve Bariátrico”. Através dela, a perda de peso se dá unicamente por restrição à quantidade de alimento ingerido, sem que haja desvio intestinal do transito ou má-absorção. O procedimento consiste em redução do estômago por vídeo cirurgia, em 85% do seu volume, diferentemente dos 95% na cirurgia de Capella, diminuindo assim os sintomas de vômitos. O estômago fica em forma de “banana”, preservando o piloro (válvula que permite a passagem gradual do estômago para o intestino). Assim, o estômago funciona normalmente, apesar da redução de volume, podendo o paciente alimentar-se com quase todos os tipos de alimentos, porém em pequenas quantidades. Aqui, a porção estomacal que produz a grelina (hormônio ligado à fome) é eliminada.
Lembro bem daquele dia. Fui para a sala de operação às 14h em ponto. A tensão foi tanta que cheguei a me despedir do meu filho Vinícius, que só tinha três anos, encarando a possibilidade de não voltar. Lembro de receber a anestesia e de ter dito a última frase para a médica anestesiologista Rosália: “Espero sobreviver para comemorar a vitória do Botafogo sobre o Vasco”. Acordei na sala de recuperação, havia um relógio enorme e consegui ver as horas, 18h e alguma coisa. Depois recebi algo na veia pra dor nas costas, que passou num passe de mágica. E junto, apaguei. Fiquei acordando e dormindo um tempão. Ainda dopado, só me lembro da voz minha mãe conversando com a enfermeira, um cafuné na minha cabeça e a frase “deu tudo certo”.
Fora a dor nas costas após acordar da cirurgia, eu não senti absolutamente mais nada de dor. Minha recuperação foi promissora. No mesmo dia da cirurgia, eu estava andando pelos corredores, não senti enjoo, nem tontura, nada. Tive medo e só “bebi” o café da manhã quando Dr. Alcides chegou pra me ver. Me perguntou se ao beber tinha sentido algum incômodo, novamente me explicou como eu deveria me alimentar. Passei o dia bem no dia 7 de março de 2013, cedinho, tive alta. Nunca imaginei que essa cirurgia seria tão tranquila, foi uma benção, graças ao Grande Arquiteto do Universo!
A maioria das pessoas acha que o único sacrifício após a cirurgia bariátrica será a mudança de hábitos à mesa, o que inclui a adoção de uma dieta líquida ou pastosa nos primeiros meses após a operação e, depois, um adeus definitivo àquelas reuniões de família regadas a macarronada, churrasco e feijoada… Não é só isso.
É preciso mudar a cabeça, entender que a comida existe para nos servir de energia à labuta diária e não para que sejamos escravos dela, comendo feito loucos, mesmo sem fome. Em breve, quero escrever sobre essa relação quase sexual que os gordos têm com a comida (a partir das teorias do sociólogo Roberto DaMatta), mas por hoje quero apenas avisar aos meus amigos, que ter feito essa cirurgia salvou minha vida. E estou muito bem, e pelo menos 50 quilos menor do que naquele 5 de março de 2013.