Começou no Chile? – por João Capiberibe

Não! Não fomos nós que inventamos o fermentado de frutas, isso vem de priscas eras.

A bíblia fala que Noé se embriagou e que Jesus na Santa Ceia serviu vinho a seus apóstolos. Fazer bebida alcoólica fermentada é tão simples e sofisticado quanto um processo milenar pode ser.

Na verdade, eu e Janete descobrimos que da polpa do açaí é possível fazer vinhos com grande variedade de aromas e sabores, isso não é uma descoberta pequena! Também a Embrapa, em análise de laboratório, identificou muitas semelhanças entre o vinho de açaí e o de uva, eu diria que essas duas frutas são primas-irmãs, sendo que da uva se sabe muito ou quase tudo, há milênios. Já do açaí as informações são muito recentes, dos últimos vinte anos.

Sim! Aqui entra o Chile nesta conversa. Eu e Janete lembramos dos anos vividos num vinhedo no país de Neruda e Allende, onde aprendemos a cultivar uvas e fazer vinho, experiência que nos serve agora, quando, num puxadinho no fundo do nosso quintal, passamos a fermentar dezenas de receitas diferentes, usando polpa de açaí. Cada uma dessas receitas nos surpreendeu com vinhos de aromas e sabores únicos, como os obtidos por diferentes uvas tintas.

Depois de muito provar e de muitas receitas diferentes, chegamos a cinco sabores distintos que ganharam identidade e hoje atendem pelos nomes de:

  • Brilho de Fogo;
  • Flor da Samaúma;
  • Amazônia Forever;
  • Meio do Mundo;
  • Curiaú.

Esses cinco rótulos em breve serão dez, o sexto já tem até nome: Encomenda da Lu, já está engarrafado, só falta o registro no Mapa para entrar no mercado.

A pergunta que não quer calar é: dá pra produzir vinhos finos de açaí do mesmo jeito que se produz vinhos finos de uva?

Sim! E essa descoberta não é pequena! Na verdade, ela é decisiva para conservar a floresta e sua biodiversidade. Agregar valor ao açaí, uma entre centenas de espécies valiosas da nossa biodiversidade, transformando-o em produto de consumo final, é a chave para o desenvolvimento sustentável com inclusão social na Amazônia. É urgente dar um basta no modelo colonial exportador de matéria prima de baixo valor agregado, que estimula atividades predatórias como garimpo e queimadas criminosas que abrem caminho para o avanço da fronteira agrícola na Amazônia, transformando floresta biodiversa em monocultura.

Os resultados predatórios da devastação são concretos. Estudos mostram que em 2022 mais de 61 mil pessoas morreram de calor na Europa.

Diante da emergência climática precisamos frear a destruição! Cada árvore da Amazônia consumida pelo fogo significa menos umidade no ar, mais calor e gases de efeito estufa, ou seja, mais mudança climática, destruição e morte. #DesmatamentoZero.

Ex-governador, ex-senador, empreendedor e ativista pelo desenvolvimento humano e sustentável da Amazônia – por João Capiberibe

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