Em ‘casamento’ com Lula, Macron diz “não” ao Acordo Mercosul-UE

Presidente francês é intransigente quanto ao atual acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia; mas aceita conversar sobre um novo que privilegie o meio ambiente.
‘Casamento’ entre Lula e Macron foi assumido. Porém, o francês disse “não” ao atual Acordo Mercosul-União Européia. Fotos: Ricardo Stuckert/PR
‘Casamento’ entre Lula e Macron foi assumido. Porém, o francês disse “não” ao atual Acordo Mercosul-União Européia. Fotos: Ricardo Stuckert/PR

A viagem de três dias que o presidente francês Emmanuel Macron fez ao Brasil significou, resumidamente, um natural e especial atenção à Amazônia e um desprezo esperado sobre o atual acordo de livre comércio entre o Mercosul e a União Europeia, tão estimado e desejado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva.

Macron, que está desde 2017 no poder, é um liberal considerado carismático, reformista e que possui um “perfil de Barack Obama”, como descreveu Julien Aubert, um colega dos tempos da Escola Nacional de Administração, uma das mais prestigiadas da França.

A escolha pela Ilha do Combu, a 15 minutos de barco de Belém, no Pará, para os dois presidentes anunciarem um acordo inédito de 1 bilhão de euros para a bioeconomia da Amazônia, pode ter sido uma estratégia para abrandar o perfil mais intransigente de Macron sobre o Mercosul-UE.

Porém, desde que deixou o Pará para agendas em Itaguaí (RJ), Brasília e São Paulo, o líder francês não permitiu que a exuberância amazônida confundisse a sua opinião a respeito de um acordo que ele considera ultrapassado e ausente de abordagens sobre o meio ambiente.

Presidente francês quer a extinção do atual Acordo Mercosul-UE que há 25 anos não é aceito. Meio ambiente é pauta imprescindível para o governo da França. FOTO: Miguel Schincariol/AFP
Presidente francês quer a extinção do atual Acordo Mercosul-UE que há 25 anos não é aceito. Meio ambiente é pauta imprescindível para o governo da França. FOTO: Miguel Schincariol/AFP

O (acordo) Mercosul da forma como está sendo negociado hoje é muito ruim. Para vocês e para nós. Porque é um acordo que foi negociado há 20 anos. (…) Não há nada que considere o tema da biodiversidade e do clima. É um acordo que eu não posso defender”, afirmou no 8º Fórum Econômico Brasil-França, em São Paulo.

Porém, o presidente francês deixou claro que aceita dialogar desde que o atual acordo seja extinto. “Vamos acabar com esse Mercosul de 20 anos atrás, vamos construir um novo acordo que esteja alinhado com os nossos objetivos e nossa realidade. Ou seja: um acordo comercial que seja responsável do ponto de vista do desenvolvimento, do clima e da biodiversidade”, disse.

Antes, em Brasília, após questionamentos da imprensa sobre o acordo, o presidente Lula usou de sua contumaz agilidade política para, de pronto, responder que não são o Brasil e a França que estão a negociar a definição do Mercosul-EU. “É o Mercosul que está negociando com a União Europeia, é um acordo comercial conjunto entre os dois blocos. Estou muito tranquilo de que o acordo proposto agora é muito mais promissor de assinar”.

Na mesma ocasião, Macron de forma mais incisiva e rígida, concordou com Lula, sempre fazendo questão de lembrar que o atual acordo é ultrapassado. “Lula teve razão de lembrar a natureza do acordo, que não é bilateral”, começou Macron, que emendou: “estamos loucos se continuarmos nessa lógica, num acordo feito há vinte anos”.

O que é o Acordo Mercosul-UE?

Aprovação do Parlamento Europeu, revisões jurídicas, ambientais e econômicas são alguns dos entraves para o atual Acordo ser aceito. Foto: Reprodução
Aprovação do Parlamento Europeu, revisões jurídicas, ambientais e econômicas são alguns dos entraves para o atual Acordo ser aceito. Foto: Reprodução

O Acordo de Associação Mercosul-União Europeia, ou de livre comércio entre os dois blocos, começou a ser negociado há 25 anos, no Rio de Janeiro, na Reunião de Chefes de Estado e de Governo da União Europeia e Mercosul.

A negociação foi interrompida algumas vezes por 14 anos devido a discordâncias sociopolíticas entre alguns países. O Acordo chegou a ser assinado em 28 de junho de 2019, na Cúpula do G20 em Osaka, Japão, mesma data do início dos diálogos em 1999.

Mas não foi ratificado devido a pedidos de revisões jurídicas e econômicas, além da não aprovação do Parlamento Europeu. Entre 2010 e 2011, a França já demonstrava inquietações a respeito do documento, principalmente em questões agrícolas. E atualmente, a preservação do meio ambiente é o reclame mais enfático da França, governada por um centrista liberal, pró-mercado e forte defensor da União Europeia. Sobre esta última, presidente Lula que o diga.

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