Costumo dizer aos meus alunos que deveria existir o dia internacional do erro. Devemos muito aos nossos erros e sem eles ainda estaríamos no paleolítico. O aprendizado, a reflexão, o crescimento pessoal e existencial passam, necessariamente, pelo erro. Não pelo dolo, mas pelo desejo sincero de acertar. Não é à toa que as pessoas que não admitem as próprias falhas são geralmente indesejáveis. Por outro lado, quem desenvolve uma autocrítica saudável está sempre evoluindo, crescendo e fechando sua gestalt.
O erro ocorre em todas as áreas de nossas vidas e lidamos com ele de maneiras distintas conforme as vivências e seus gatilhos internos. Algumas pessoas são mais resilientes na vida profissional e hipersensíveis em questões afetivas, enquanto outras são inteligentes socialmente e um desastre na intimidade.
Claro que estes fatores não estão relacionados apenas a questão do erro, mas estão entrelaçados. Saber encarar os nossos equívocos de frente e buscar corrigi-los é, ao mesmo tempo, saber melhorar a nossa relação com nós mesmos e com os outros, visto que nos tornaremos mais compreensíveis com o semelhante a partir da identificação dele com os nossos próprios erros.
O fenômeno da demonização do erro vem de uma cultura de crime e castigo e de ideologias dominantes tão bem explicadas por Foucault na microfísica do poder. O erro não é algo a ser perseguido porque isto seria evidentemente uma estupidez, mas ele vai nos encontrar de qualquer jeito, sempre desarmado e inocente como uma criança sonhando em ser adulta.
O erro não é nem o fim, nem o meio, é o natural do existir uma vida com propósito. Até mesmo as religiões que policiam de perto os nossos erros são levadas por amor ou temor à indulgência quanto aos nossos erros porque até Deus é taxativo ao afirmar que deles nem se lembra mais (Is 43-25). Enfim, somos tão humanos quanto nossos erros e acertos, aonde o erro naturalmente vai de encontro ao acerto, e, assim, preserva nossa saúde mental. Caso contrário, arrastaremos correntes anos a fio sob o jugo da culpa e da condenação nossa por algo que dentro de contextos específicos era simplesmente inevitável. Uma crueldade para com nós mesmos.
EDmente e corpo – por Paulo de Tarso