No último dia 21 de janeiro, se estivesse entre nós, Hélio Guarany de Souza Pennafort faria 86 anos. E no dia 19 de fevereiro completa 23 anos que desencarnou. Muito da minha formação jornalística devo a ele. Hélio me ensinou que uma boa pauta pode ser construída das coisas cotidianas, de situações que na maioria das vezes passam despercebidas por um olhar menos atento. Mais de duas décadas depois, Hélio ainda faz muita falta.
Acredito que o jornalismo amapaense deve muito ao Hélio Pennafort. Trabalhei com ele no jornal do Luiz Melo e confesso ter aprendido muito com essa convivência. O Hélio nasceu no Oiapoque, onde também começou sua produção jornalística e literária, através do Jornal Vaga-lume. Foi repórter de A Voz Católica, Rádio Educadora São José e TV Amapá além de ter publicado diversos livros e escrito e dirigido curtas metragens e documentários para televisão com temas regionais.
Atuou como correspondente do Jornal do Brasil e foi colaborador do Jornal da Tarde e de O Estado de São Paulo, sem falar que foi um dos nossos maiores cronistas. Aliás, não existe melhor forma de homenageá-lo do que contando uma de suas hilárias histórias. Essa Hélio me contou sobre um episódio envolvendo outro saudoso amigo, o “Segura-o-Balde”.
Figura simpática e bastante popular, Cordeiro Gomes recebeu certa vez o convite para interpretar um tirano capitão-do-mato, numa peça em que se questionavam esses conflitos de terras, escrita por um colega seu, já falecido.
Esse colega, além de autor da peça, representava o papel de um caridoso engenheiro agrônomo que teve de se defrontar com as maldades do coronel dono da terra – e patrão do personagem de Cordeiro -, em defesa dos pobres posseiros. Em determinada cena, o coronel manda o seu capitão-do-mato (Cordeiro) aplicar um corretivo no engenheiro (o poeta autor da peça). Cordeiro não se fez de rogado. Usufruindo tudo que tinha direito de sua vida artística, pronunciou com muita empostação de voz uma dúzia de palavras ofensivas, pegou uma chibata de umbigo de boi e bateu pra valer no franzino ator.
Mas bateu mesmo, bateu forte, tanto que o cara não aguentou e em cena aberta pulou para fora do alcance do Cordeiro e perguntou gritando: “Ei, Cordeiro, por que toda essa porrada?” E o cordeiro: “É pra ti aprender a escrever, seu porra.“
3 respostas
Excelente texto, amigo Renivaldo!!!
Meu amigo Hélio Pennafort. Quanta saudade! Ele também foi correspondente de A Província do Pará, onde tive a honra de trabalhar juntamente com ele.
Grande amigo.