As mulheres movem os deuses, os homens e o universo. E, frequentemente, até outra mulher. Até porque nada que se mova pode tanto nos gestos mais avessos. Se ninguém resiste ao seu contar-se – Circes na sua ilha de feiticeiras-, nem ao repetir infinito de uma vontade sua, menos ainda podemos quando elas se fecham em silêncio e segredos e fazem evaporar-se todas as certezas e ilações.
Nos rendemos quando se entregam de entrega inteira, templo, corpo, desejo, devoção, indecências, e quando se negam, como se nos lançassem uma maldição que nos condena a incompletude.
Nada, nada, é tão irreversível, irremovível, quanto uma mulher quando desiste, ou tão voraz, rompante, deságue, cheia de temporal, quando chega – olhos e alma de cobiça-, e transforma sua volúpia numa força avassaladora de conquista, como um exército invencível, de longas batalhas, que vem desarrumando seu passado, sua cômoda e seus limites de ocidente e oriente.
E nada dói como uma mulher perdida antes do tempo, menos para outro, do que para si próprio, nem nada regenera nossas feridas de forma tão completa quanto o seu amor, como se só ela fosse capaz do milagre da cura.
Nada mais, vivo, se reconstrói como se fosse uma fênix mitológica a recomeçar mil vezes mil, e sua pele fosse folhas secas que apenas cumprem seu destino de outono para dar lugar a um novo e inaugural mistério de ressurreição.
Ninguém suporta as dores e os martírios, nem se lança aos vendavais- refém de incêndios que é seu coração-, ou desiste de tanto, quanto uma mulher, quando perde o interesse. Mas nada é tão ameaçador, implacável, ou letal, quanto ela, se tomada de ódio, volátil e impulsiva que é sua emoção.
Ninguém fala de forma tão clara o que não quer e tão cifadramente o que deseja, com tantas palavras, do que essa mulher que exige adivinhas e surpresas, promessas e rendições, romance e realidade. Céu e areia.
E delas, somente delas, depende nosso perder-se e nossa salvação…