Neste sábado, 15, a vida de 554 estudantes da rede estadual de ensino de Macapá mudou de forma significativa. Graças ao projeto “Em um Piscar de Olhos”, conduzido pelo Instituto Desponta Brasil em parceria com o Governo do Amapá e com o senador Lucas Barreto (PSD-AP), alunos de nove escolas receberam gratuitamente seus respectivos óculos de grau.
O evento, realizado na Escola Estadual Antônio João, no bairro Santa Rita, reuniu familiares dos alunos para celebrar essa importante conquista. O projeto possui duas fases. Durante a primeira, que ocorreu de 11 até o dia 20 de março, houve a triagem de mais de 6 mil alunos de nove escolas da rede de ensino público, em seguida a consulta oftalmológica e, por fim, a confecção dos óculos. neste dia 15, foi a segunda e última fase, a tão aguardada entrega dos óculos aos estudantes.
O projeto Desponta Brasil aconteceu, é realidade, junto com o Governo do Amapá, através do aporte parlamentar do senador Lucas Barreto de R$ 2,7 milhões para que todas as etapas do projeto fossem concluídas. Durante o evento, o senador já noticiou a garantia de que a próxima etapa será destinada aos estudantes das escolas do município de Santana.
“Já aportei recursos para que, no ano que vem, o Governo do Amapá consiga fazer a revisão destes alunos, caso eles precisem mudar o grau. Além disso, estamos investindo mais de R$ 1,5 milhão para que o projeto avance para as escolas de Santana”, noticiou o senador.
O governador Clécio Luís (SD) avaliou o quanto de alunos que necessitam de óculos para o cotidiano e que sofrem com problemas como astigmatismo e miopia. “Além de projetos como esse, pretendemos montar um sistema de investigação de saúde escolar para aferir a habilidade visual, auditiva e outros tipos de patologias que podem impactar na aprendizagem dos alunos. Isso é mais do que um projeto, é uma revolução silenciosa“, afirmou Clécio.
Edilene Abreu, secretária de Estado da Educação em exercício, ressaltou que “sem conseguir enxergar corretamente, o estudante perde o interesse pela leitura, tem dores de cabeça e não consegue prestar atenção nas aulas. Com a entrega dos óculos, combatemos a evasão escolar e promovemos a saúde dos educandos“, afirmou, enquanto o jovem Kauã Pinheiro, de 12 anos, experimentava a vida sob uma nova ótica.
“Eu tinha muita dificuldade de enxergar o quadro, minha vista embaçava e isso prejudicou as minhas notas. Agora estou empolgado para conseguir ver e ler melhor. Também fiquei muito feliz que pudemos escolher nossa armação, então os óculos são do jeito que eu sempre sonhei”, celebrou Kauã que estuda na Escola Estadual Antônio Cordeiro Pontes, no bairro Central.
Sua mãe, Edileuza Ramos, comemorava junto. “Óculos de grau são caros e nem sempre as famílias têm condições de comprar para os filhos, então achei a iniciativa muito importante e nos ajudou muito”, comemorou.
COLÉGIOS ATENDIDOS PELO PROJETO
As nove escolas visitadas, entre 11 e 20 de março, foram a Escola Estadual José de Anchieta, Escola Estadual Marly Maria, Escola Estadual Antônio Munhoz, Escola Estadual Tiradentes, Escola Estadual Antônio Cordeiro Pontes, Escola Estadual Barão do Rio Branco, Escola Estadual D. José Maritano, Escola Estadual José de Alencar e Escola Estadual Nilton Balieiro.
Cada uma dessas instituições representou uma comunidade com alunos ansiosos por melhorias na qualidade de vida e no aprendizado. Em todas essas escolas, a equipe do projeto encontrou não apenas alunos com necessidades, mas também professores e pais comprometidos com o bem-estar das crianças.
ESTATÍSTICAS GERAIS
A execução do projeto contou com uma equipe multidisciplinar qualificada, incluindo oftalmologistas e técnicas em enfermagem. Os oftalmologistas Jaquison da Silva e Hilton de Medeiros, juntamente com as técnicas em enfermagem Ana Carolina Souza, Delane Santos, Francimara Penha e Jamayra Rodrigues, desempenharam um papel crucial na triagem e acompanhamento das crianças.
Jaquison, um dos oftalmologistas que atendem ao “Em um Piscar de Olhos, comentou que “este projeto é uma oportunidade única de proporcionar saúde visual a crianças que, muitas vezes, não têm acesso a cuidados básicos. A identificação precoce de problemas visuais é crucial para o desenvolvimento educacional e social dos estudantes.”
Desde o seu início, em março, o projeto contabilizou exatamente 6.005 crianças atendidas em nove escolas de Macapá, das quais 1.567 apresentaram problemas de refração ocular. Esse número, que representa 26,09% dos alunos, reflete a magnitude do impacto e a necessidade urgente de intervenções oftalmológicas na região.
Foram realizadas 743 consultas oftalmológicas, das quais 554 resultaram em receitas para confecção de óculos, representando 74,5% das consultas. Este processo, apesar da taxa de faltas superior a 50% entre os alunos convocados, demonstrou a importância da continuidade do acompanhamento oftalmológico.
A métrica do projeto resultou em 309 crianças (5,01%) que apresentaram anisometropia, uma condição de refração que pode levar à ambliopia, a principal causa de cegueira entre crianças e jovens no mundo e 82,64% das crianças identificadas com problemas de refração não utilizavam lentes corretivas, evidenciando a lacuna no atendimento oftalmológico prévio.
FALTA DE CUIDADOS OFTALMOLÓFICOS ELEVA ABANDONO ESCOLAR NO BRASIL.
A relação entre problemas de visão não tratados e a evasão escolar é um tópico crítico, especialmente em contextos de vulnerabilidade socioeconômica. No Brasil, uma parcela significativa dos estudantes de escolas públicas enfrenta dificuldades para obter diagnósticos e tratamentos oftalmológicos adequados, o que contribui substancialmente para a evasão escolar.
O ensino médio no Brasil é uma etapa marcada por desafios significativos, infelizmente destacando-se pelas altas taxas de evasão escolar por diversos motivos, entre eles problemas com a saúde ocular. segundo o Ministério da Saúde, a taxa masculina de evasão escolar supera a feminina, atingindo 7,3% contra 4,5%. Analisando as diferentes modalidades educacionais, a educação urbana e a especial compartilham a mesma taxa de evasão de 5,9%.
Entretanto, a educação especial apresenta uma ligeira elevação para 6,2%. Já a educação rural e indígena registram taxas de 5,9% e 5,2%, respectivamente, enquanto a educação quilombola, surpreendentemente, tem a menor taxa de evasão entre as modalidades mencionadas, com 4,6%. Estudos indicam que cerca de 10% dos alunos do ensino primário necessitam de óculos para corrigir problemas como miopia, astigmatismo ou hipermetropia. No entanto, impressionantes 80% dessas crianças nunca realizaram um exame de vista, o que evidencia uma lacuna significativa no cuidado oftalmológico infantil.
Um aspecto crítico revelado pelo estudo do MS é a alta presença de jovens na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Este fenômeno reflete a migração de estudantes com histórico de retenção do ensino regular para a EJA, em busca de continuidade e conclusão de seus estudos. O ministro da educação, Camilo Santana, enfatizou que o programa Pé-de-Meia também se dedica a combater essa tendência, “buscando soluções para reduzir a evasão e promover uma educação mais inclusiva e eficiente para todos os jovens brasileiros”, completou.
O economista Kadmo Côrtes, presidente-executivo do Instituto Desponta Brasil, ressaltou que “estamos vendo resultados meritórios em Macapá. O projeto é uma prova de como a saúde ocular está diretamente ligada à educação e ao desenvolvimento social,” afirmou. Côrtes também enfatizou que o “Em um Piscar de Olhos” tenciona reduzir entre 60% e 80% os casos de cegueira infantil através de diagnósticos precoces e intervenções eficazes.
De acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia, cerca de 20% das crianças em idade escolar apresentam algum tipo de problema de visão que pode interferir no desempenho escolar. A miopia, por exemplo, é uma condição que tem aumentado gradualmente, especialmente devido ao uso excessivo de dispositivos eletrônicos. Durante a pandemia, o aumento do uso de telas para aulas online exacerbou esses problemas, levando a um agravamento de condições como a miopia e a astenopia (vista cansada).
Nathália Cristina Ribeiro, oftalmopediatra, explica que a exposição precoce a dispositivos eletrônicos, combinada com a falta de atividades ao ar livre, são fatores que contribuem significativamente para o aumento de problemas de visão entre os jovens. Esses problemas não apenas afetam a saúde ocular, mas também podem resultar em dificuldades de aprendizado e, potencialmente, na evasão escolar.
Segundo o Instituto Mobilidade e Desenvolvimento Social (IMDS), a evasão escolar no Brasil está fortemente ligada também à falta de acesso a cuidados médicos básicos, como os oftalmológicos. O IMDS destaca que a evasão escolar alcança níveis alarmantes em regiões com alta vulnerabilidade social, sendo a saúde visual um dos fatores determinantes para o abandono escolar.
O IMDS é uma plataforma dedicada à execução de políticas públicas com foco na mobilidade social. Sua atuação é baseada em pesquisas científicas, dados e evidências, com o objetivo de apoiar gestores em diferentes níveis de governo na transformação da vida dos cidadãos atuais e das futuras gerações.
Paulo Tafner, diretor-presidente do IMDS, disse que problemas de visão não diagnosticados e não tratados são um dos muitos fatores que contribuem para o baixo rendimento escolar e a evasão. “O projeto ‘Em Um Piscar de Olhos’ aborda essa questão de maneira proativa, realizando triagens e tratamentos oftalmológicos que permitem aos estudantes enxergar melhor e, consequentemente, aprender melhor.”
Ele também ressaltou que o projeto está alinhado com a missão do IMDS de promover a mobilidade social por meio de políticas públicas eficazes. “Investir na saúde ocular dos estudantes é investir no futuro do Brasil. Projetos como este são essenciais para quebrar o ciclo de pobreza e permitir que crianças de todas as classes sociais tenham as mesmas oportunidades de sucesso acadêmico e profissional,” afirmou Tafner.